Luana Lourenço
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Ex-ministro do Meio Ambiente daFrança e considerado um dos principais quadros do Partido Verde europeu, Brice Lalonde representou a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico(OCDE) durante a discussão, nesta semana, sobre o futuro global diante das mudanças climáticas. Depois de participar de conferência organizada por uma empresado mercado de carbono, Lalonde falou à AgênciaBrasil sobre a necessidade de mecanismos econômicos para a solução dosproblemas ambientais. Ele avaliou o funcionamento de instrumentos desse tipo, comoo Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), e defendeu parcimônia no estímuloaos biocombustíveis.
Agência Brasil: Qual o papel das discussões econômicas em relação às questões do meio ambiente?Brice Lalonde: A OCDE sempredefendeu soluções baseadas no mercado para os problemas ambientais. Os mercadosde carbono são elementos muito importantes nesse sentido. Eles podem nãorepresentar a solução para tudo, mas são partes importantes e vêm funcionando,dando bons resultados.
Hoje estamos avançando, inclusivecom os resultados do mercado voluntário. E isso é interessante, porque nessecaso não foram criados ou pressionados por decisões políticas, são iniciativasvoluntárias para colaborar com a causa ambiental.
ABr:Como países em desenvolvimento como Brasil e China estão posicionados nessemercado?Lalonde: Nós achamos que chegou ahora de discutir o papel dessas nações não as tratando como países emdesenvolvimento, mas como potências médias. Eles já contribuem para o problemacomo os Estrados Unidos, como a União Européia e devem ser considerados comotais.
Acredito que, em um primeiromomento, você deve estabelecer compromissos firmes para esses países e depoisse deve estabelecer metas; eu não sei quando, mas já é hora de começar a pensarnisso. Se você quer ter mercados você tem quer ter metas. É difícil, talveztenhamos que flexibilizar, mas a questão é urgente, precisamos envolver todosos países.
ABr: Qual a sua avaliação do funcionamento doMecanismo de Desenvolvimento Limpo?Lalonde: Está funcionado melhorque o esperado. O MDL foi uma surpresa, uma boa idéia, uma inovação. As pessoasnão acreditavam que funcionaria bem, mas tem funcionado. Obviamente, ele élimitado pela demanda, as autoridades é quem definem o que pode e o que nãopode ser um projeto de MDL.
Não é o bastante, é apenasadicional. Nós precisamos de muito mais, grandes investimentos para construiralternativas de energia, principalmente de energias limpas.
ABr:Qual a posição da OCDE em relação a à produção de biocombustíveis como alternativaenergética?Lalonde: É preciso tomar cuidado,porque o sucesso que você tem no Brasil não pode ser repetido em qualquerlugar. Nos Estados Unidos e na Europa, a natureza não é generosa como noBrasil. No Brasil, isso parece competitivo, não há briga pelo uso da terra coma produção de comida. Em outros países há essa competição, você tira terra daplantação de alimentos para produção de biocombustíveis e o preço da comidaaumenta, e isso conta com altos subsídios.
Se você quer lutar contra asmudanças climáticas, você tem jeitos muito mais baratos e mais efetivos do queusar biocombustíveis. Implantá-los em países como os europeus ou mesmo nosEstados Unidos custa muito dinheiro para o contribuinte e não resulta tanto noenfrentamento das mudanças climáticas.
ABr: Mas não é mais sustentável que o uso decombustíveis fósseis?Lalonde: Não estou certo disso.Porque se você tem uma alternativa que não emite tantos gases do efeito estufa,mas destrói a natureza e aumenta o preço dos alimentos, você vai ter prejuízossociais, as pessoas vão ficar bravas, porque o pão ficou mais caro, o milhoficou mais caro.
ABr: O presidente George W. Bush convocou umareunião internacional para discutir mudanças climáticas. Na sua opinião, issosignifica alguma mudança de posicionamento do líder norte-americano em relaçãoao aquecimento global?Lalonde: Não acredito querepresente uma mudança no comportamento político dele em relação ao tema, massim dos Estados Unidos. Há muitosestados que definiram metas de redução, há pressões no Congresso e há a pressãopopular dos americanos por mudanças, por causa de episódios como o [furacão]Katrina, por exemplo.
Eles estão mudando. E nos EUA, asdecisões vêm da base, não vêm da esfera federal. As decisões do governo federalvirão em seguida.
Quanto à reunião, pode sersaudável discutir com o principal emissor, desde que ele concorde em discutirdepois no âmbito das Nações Unidas.
O Bush já mudou algumas de suas posições, antes ele diziaque as mudanças climáticas não existiam, depois ele reconheceu que atemperatura está aumentando, e agora ele começa a sinalizar que, sim, eles têmresponsabilidades. Ele está de olho nos riscos energéticos, não quer dependerdo petróleo do Oriente Médio, por isso estão começando a investir embiocombustíveis.