Irene Lôbo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Meninos e meninas de rua que vivem na Rodoviária de Brasília e engraxates que trabalham no local, mostraram hoje (3) o que acontece quando há alguma perspectiva além da rua. Com uma mostra de trabalhos manuais, capoeira e dança, cerca de 60 jovens apresentaram o projeto GirAção, uma parceria entre o Centro de Referência, Estudo e Ações sobre Crianças e Adolescentes (Cecria), a Petrobras e o Movimento de Meninos e Meninas de Rua do Distrito Federal.
O projeto GirAção iniciou suas atividades em março deste ano, mas a idéia surgiu há cerca de dois anos, quando um ex-morador de rua e uma vendedora de flores procuraram o Movimento de Meninos e Meninas de Rua com a proposta de criar um espaço de convivência e aprendizagem. Os próprios jovens disseram o que esperavam do projeto. Eles queriam um espaço para se reunir, lanchar, conversar e discutir problemas.
A idéia foi acolhida e hoje tem como meta principal fazer a inclusão social desses meninos e meninas, por meio do aprendizado de alguma profissão, da geração de renda e do fortalecimento das noções de direito e cidadania, que estão no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
O coordenador do Movimento de Meninos e Meninas de Rua do Distrito Federal, Márcio Sanches, explicou que os adolescentes foram organizados em dois grupos. O primeiro, inclui os meninos e meninas que vivem na rodoviária, e o segundo inclui os engraxates que trabalham no local.
"Para os meninos que já são trabalhadores há a idéia de cooperativação, de ajudá-los a pensar melhor como trabalhar e como desenvolver seu trabalho. Eles estão recebendo hoje um kit, que eles chamam de escritório, que contém todos os materiais para eles engraxarem. A caixa tem um desenho próprio, ergométrico. Então para esse público a gente tem concretamente uma proposta que é de organização, para eles comprarem material juntos", disse Sanches.
Para os meninos que vivem na rodoviária, o projeto oferece atividades de terapia ocupacional, como oficinas de capoeira, aulas de percussão e de trabalhos manuais.
A secretária-geral do Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes (Cecria), Neide Castanha, informou que assim que entram na sala do projeto, os jovens recebem o kit higiene, vão ao banheiro, tomam banho, trocam de roupa, lavam a roupa que estavam usando, depois participam de alguma brincadeira e em seguida de uma atividade que lhes dê uma perspectiva de renda.
“Tentamos enfrentar essa indecência, essa impropriedade, que é o fato de no coração do Brasil, no coração do poder, na Rodoviária de Brasília, se concentrar o maior número de violações de direitos de crianças. E como esses meninos são entendidos como alguém que não conta mais, nós resolvemos provar que eles contam sim”, afirmou Neide.
Uma das adolescentes que participam do projeto, de 15 anos, diz que faz aulas de pintura e hip hop. Longe da família há cinco anos, ela diz que antes passava o dia vendendo chiclete na rodoviária. Agora já sonha em estudar e ser professora de criança, já que, segundo ela, adulto dá muito trabalho. “Eu acho que ele [o projeto] dá muita oportunidade para a gente ser alguém na vida. O tempo que a gente está perdendo na rua, usando droga, os policiais abordando a gente, o tempo que a gente estaria lá [na rua], muitas pessoas se prostituindo, vendendo droga, usando droga, a gente está aqui”, disse.
Desde o início do ano, o projeto conta com o patrocínio de R$ 300 mil anuais da Petrobras. O gerente de comunicação da empresa, José Samuel Magalhães, diz que enxergou no projeto a oportunidade de suprir a carência de projetos sociais voltados para o público de meninos e meninas de rua.
"Em Brasília nós vimos uma carência, aqui fizemos umas investigações para ver os projetos sociais que existiam, e vimos a situação dos menores abandonados do Distrito Federal", explicou.
Desde 2002, o Governo Federal mantém o Programa de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, que tem entre seu público alvo os meninos e meninas de rua. Uma das principais ações do programa é a mobilização de redes com vistas a integrar um conjunto de programas e ações dos governos, organismos e agências internacionais, universidades e sociedade civil para desenvolver e aplicar métodos de intervenção local para superar a violação de direitos de crianças e adolescentes.
O programa é responsável ainda pelo Disque Denúncia Nacional - 100, que recebe e encaminha denúncias de violência contra crianças e adolescentes.