Unicamp busca inclusão social e racial por pontos, mas sem cotas

29/07/2007 - 17h24

Renato Brandão
Da Agência Brasil
São Paulo - A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) adotou e mantém há três anos um sistema de inclusão social de estudantes de escolas públicas de ensino médio, que possui um viés de inclusão racial, mas não estipula cotas. O Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social da Unicamp (Paais) inclui a isenção de taxa de inscrição para o vestibular para egressos do ensino público com baixa renda.Nas provas, a universidade acrescenta 30 pontos na nota final de todos os secundaristas de escolas públicas e, dentro desse grupo, outros 10 pontos aos autodeclarados negros e pardos ou indígenas. Este diferencial não aparece nas listagens finais da classificação divulgadas.A universidade divulgou em junho estatísticas sobre o seu último vestibular. Dos 3.061 estudantes que ingressaram na instituição neste ano, 991 (32,4%) vieram da rede pública estadual. Essa porcentagem é proporcionalmente superior ao total de inscritos do sistema público no vestibular (29,1%). “Estamos contentes com nossa política de ação afirmativa”, disse Leandro Russovski Tessler, coordenador-executivo da Comissão Permanente do Vestibular da Unicamp (Comvest) para a Agência Brasil.“O mais importante no resultado deste ano foi a diferença de percentual entre os egressos de escolas públicas inscritos e os que passaram e se matricularam. Aumentamos em 11% do número absoluto a proporção de matriculados que vieram de escola pública em relação aos inscritos”, afirmou. Esse indicador, segundo a universidade, é o melhor dos últimos 14 anos e o segundo melhor da história da universidade, fundada em 1966. “Ao optar pelo estudante de escola pública, nós estamos aliando inclusão social e desempenho acadêmico na universidade. Ao adicionar pontos étnicos, nós estamos dizendo que a Unicamp quer ser um lugar multicultural. A Unicamp não pode abrir mão de ter nos seus quadros estudantes negros, pardos e indígenas. A gente acredita que o convívio entre diferentes é o faz e impulsiona as novas idéias”, disse. “E é importante notar que isso foi feito sem cotas”, enfatizou.Apesar da porcentagem de matriculados de escolas públicas na Unicamp ter sido maior do que o de inscritos no seu vestibular, houve uma queda deste em relação ao ano passado. Em 2007 foram 29,1%, ante os 31,3% de 2006. “[Isso] aconteceu em todas as universidades públicas brasileiras, possivelmente em conseqüência do ProUni. Muita gente fica contente com as vagas do programa e nem tenta o vestibular da universidade pública”.O coordenador-executivo da Comvest se declarou “muito contente porque o principal efeito do programa de ação afirmativa acontece justamente nos cursos de mais alta demanda, como medicina, midialogia, farmácia, que são cursos muitos disputados aqui na Unicamp”.Criada em Campinas, a 100 quilômetros da capital, a Unicamp expandiu-se e hoje possui campi também em Limeira e Piracicaba. Ela reúne atualmente 31.706 estudantes - 16.313 de graduação e 15.393 na pós-graduação.