Paulo Montoia
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), adotou em 2004 um regime de cota em seu vestibular para estudantesegressos de ensino médico público autodeclarados negros (pretos e pardos) eíndios. A cota geral é pequena, de 10%, 111 das 1.115 vagas, mas seudiferencial é garantir uma bolsa de estudos por todo o curso.Essa bolsa éatualmente de R$ 300. Custeada pelo Ministério da Educação, ela é paga a todosos incluídos na cota indistintamente. Não há um número determinado de vagaspara negros, pardos ou índios dentro da cota, o resultado é por mérito, ouseja, o ingresso é pela nota nos exames.AUnifesp possui quatro campi: em São Paulo, na Baixada Santista, em Diadema e em Guarulhos.Segundo o responsável pelo programa de Ações Afirmativas da universidade, o professor de psiquiatria Marcos Pacheco de ToledoFerraz, o programa resultoude um amplo debate realizado na Unifesp em 2003.A universidade pediu apoio deprofissionais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) parasubsidiá-la com informações sociais que alicerçassem ou não a necessidade das cotas.O debate teve participação dos estudantes e a principal objeção destes, aredução do número de vagas, foi vencida com a criação e acréscimo, ao total,das 111 vagas da cota.No mesmo ano, a universidade tabulou os dados dosinscritos para o vestibular para conhecer seu perfil social e racial,distribuídos em quatro faixas de renda familiar mensal, de R$ 1,5 mil a mais deR$ 5 mil. Foi constatado que os inscritos brancos e amarelos se dividem mais uniformemente entre as faixas de renda esão majoritários nas faixas acima de R$ 3 mil; já entre negros, pardos e índiosa distribuição é desigual e há maior concentração na menor faixa.“Mostrava claramente que eram populações de rendasdiferentes. A renda familiar, por exemplo, de brancos e negros, era nitidamentediferente. Agora, o que chamava a atenção também, era que os negros e pardos,além de renda inferior, tinham menos acesso à internet, menor quantidade decomputador em sua casa, algumas coisas ligadas à cultura. Tudo isso foi muitoimportante para que o Conselho Universitário (Consu) nos autorizasse a abrir asações afirmativas”, explica Ferraz. “Era importante que os alunos aprovados em regime de cotastivessem bolsas, porque estava demonstrado em alguns lugares que quando essesalunos não têm bolsa há um alto nível de abandono no meio do curso.”“Foi preciso vencer o preconceito de que iria baixaro nível da faculdade, de que eles não conseguiriam acompanhar o curso. Os 10%aprovados no primeiro vestibular, em 2004, somaram 27 vagas em ciências biomédicas, enfermagem, fonoaudiologia, medicina e técnica oftálmica. No começode 2005, fizemos um gráfico para apresentar ao Conselho mostrando que ossituados pelo sistema de cotas estavam logo abaixo dos do sistema universal [dovestibular]", diz.O professor de psquiatria completou que, depois de um ano de curso, os alunos cotistas foram "indistinguíveis" em seu desempenho, ou seja, "não foipreciso fazer testes estatísticos, eles tiraram as mesmas notas". "Esse aspectofoi tão importante e impactante que o conselho decidiu expandir as açõesafirmativas para todos os campi e todos os cursos e hoje já é universal”,informa.