Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Um ônibus com 45 trabalhadoresrurais partiu esta noite (4) de uma fazenda da empresa ParáPastoril Agrícola (Pagrisa) com destino ao município deUlianópolis, distante 450 quilômetros de Belém.Foram os primeiros funcionários a deixar a fazenda apóso Grupo Móvel de Combate ao Trabalho Escravo encontrar, naúltima semana, 1.108 trabalhadores em situaçãoanáloga à escravidão no local.De acordocom o auditor e coordenador do grupo Móvel, Humberto Célio,os empregados deixaram a fazenda após receber durante estatarde, cerca de R$ 1 mil. O pagamento é referente àrescisão do contrato de trabalho temporário com aPagrisa. No local, os trabalhadores também foram inscritos noSeguro Desemprego.Arias Roma Pereira foi um dos trabalhadoresque optou por deixar a fazenda. Assim como os colegas, ele contou quequer voltar para a sua cidade. Pereira disse que em abril deixou aesposa e os quatro filhos na cidade de Codó (MA), localizada a120 quilômetros de Teresina (PI), para trabalhar no corte decana-de-açúcar em Ulianópolis (PA). Mas searrependeu.“Nós estávamos em uma prisão”,afirmou. “Agradeço a Deus que os homem da leichegaram e resolveram nossos problemas”. De acordo com otrabalhador, “a lida” era muito difícil e os empregados“muito maltratados”. “A comida era ruim, às vezes,azeda. E nós comíamos debaixo das carretas”,comentou.Para beber, a água também nãoagradava e para tomar banho, “de vez em quando, faltava”. “Váriosdias dormíamos sujos”. Descansar também era umproblema. Após a jornada de trabalho que ia das 4 horas às18 horas, “o barraco, muito seboso, estava sempre com muitagente”.O coordenador do Grupo Móvel de Combate aoTrabalho Escravo afirmou que o pagamento das indenizaçõesao restante dos trabalhadores deve terminar no próximodomingo. O cálculo das rescisões alcança R$ 1,8milhão. O auditor informou, ainda, que a multa a empresa pelainfração à legislação trabalhistanão foi calculada, mas deve superar R$ 600 mil. “Nãoserá pouca coisa não”, garantiu.Por meio denota divulgada hoje (4), a Pagrisa defende que não utiliza trabalhadores emsituação análoga à escravidão. Eque essas informações “são uma violênciacontra a empresa”. Também segundo o texto, cerca de 80cortadores de cana estão arrependidos de terem optado deixar aempresa. Os demais, “foram convencidos pelos fiscais do governo”,que prometeram aos trabalhadores rurais “compensaçõesfinanceiras como três salários do seguro desemprego”.