Carolina Pimentel
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) vão negociar o assentamento das 24 famílias de pequenos agricultores que ocuparam a Fazenda Descanso - Estreito Ponte de Pedras, em Paraúna, Goiás, que pertencia ao traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar.Os agricultores reivindicam o assentamento na área desde 2003, quando Beira- Mar foi preso, e a fazenda transferida ao Fundo Nacional Antidrogas da Senad. A lei determina que bens apreendidos de narcotraficantes sejam destinados ao fundo. A secretaria conseguiu a posse definitiva da terra e, agora, pode fechar acordo com o Incra para o assentamento das famílias, acampadas na propriedade há mais de um mês.De acordo com o secretário nacional Antidrogas, Paulo Roberto Uchôa, para receber a fazenda, o Incra terá de investir em projetos de combate às drogas valor equivalente ao que pagaria pela terra.Uchôa disse que o Incra pode ajudar a secretaria com o equivalente ao valor da terra em recursos. "Se a terra for avaliada em R$ 100 mil, o Incra disponibilizaria e nos apoiaria em um projeto na redução da demanda ou oferta de drogas na ordem de R4 100 mil, o que justificaria cedermos a área para o Incra fazer o assentamento. Estamos cedendo a área para o Incra fazer o assentamento em troca de recursos para a redução da demanda. Isso atende a lei também.”Uchôa deu as declarações depois de se reunir com representantes do Incra e da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Goiás (Fetaeg), no Palácio do Planalto.Ele informou que, depois de avaliada a propriedade, o Incra apresentará proposta. A secretária de Política Agrária da Fetaeg, Sandra do Carmo, espera que o acordo saia nos próximos meses.“Estamos confiantes em uma negociação entre o Incra e a Senad. Para os trabalhadores, é melhor ainda, porque haverá o assentamento e combate às drogas", afirmou Sandra, que participou da reunião.O líder dos trabalhadores acampados, Adilson Cardoso, planeja plantar maracujá e criar gado quando o assentamento for efetivado. “As pessoas assentadas lá [município de Paraúna] têm uma vida melhor, têm o que servir para a família deles, têm uma mesa cheia. Na cidade, a gente, que não tem estudo, está vivendo uma vida difícil. A gente vai para a roça, porque a roça dá o que a gente necessita para a família”, disse Cardoso à Agência Brasil.No dia 27 de junho, a Justiça Federal determinou, a pedido da Advocacia Geral da União (AGU), que as famílias deixassem a fazenda. Na época, o procurador regional do Incra, Noemi Brito, explicou que a área foi confiscada, porque estaria em nome de um "laranja" de Fernandinho Beira-Mar. De acordo com o procurador, a área era usada para refino de drogas. Os agricultores não saíram do local e conseguiram suspender provisoriamente a ação de despejo.