Mylena Fiori
Enviada especial
Lisboa (Portugal) - Movimentossociais e parlamentares da esquerda européia pretendem acompanhar deperto a evolução da parceria estratégica entre Brasil e União Européia.Estão preocupados com os reflexos do aprofundamento da relaçãobilateral no processo de integração latino-americana enos resultados da Rodada Doha, em que países desenvolvidos e em desenvolvimento debatem formas de aumentar o livre-comércio.“Aproposta de parceria faz parte de uma estratégia da União Européia deformar um bloco sólido entre países industrializados e outrospaíses-chave para agilizar o resultado da agenda de Doha antes queseja tarde em termos de calendário internacional’, avalia GabyKüppers, conselheira para assuntos de comércio exterior e AméricaLatina da bancada do Greens/EFA (Partido Verde/Aliança Livre Européia)no Parlamento Europeu. O grupo, composto por 45 deputados de diferentespaíses europeus, atua em coordenação com movimentos sociais do mundotodo.Segundoela, a proposta européia surpreendeu parlamentares e ONGseuropéias pois a estratégia da UE, até o final do ano passado, era denegociação com outros blocos, não com países individualmente. Atática mudou a partir de outubro de 2006 com o lançamento, pelaComissão Européia, do documento Global Europe. “A estratégia mudoucompletamente. A idéia anterior do multilateralismo foi preterida emfavor do bilateralismo e de uma série de acordos de livre-comércio”,diz . “É o abandono de toda uma idéia de parceria social e proteçãosocial”, avalia a conselheira da bancada dos Verdes.Eladestaca que a Comissão Européia já tem mandato para negociar com Índia, Coréia do Sul e outras nações da Ásia. “A nova lógica é terparcerias com os países mais fortes e abandonar aqueles que não sãointeressantes para as corporações européia”.Por isso, aconselheira do Greens acredita que a América Latina deve fortalecer a integraçãoregional, com foco no desenvolvimento dos povos, antes de partir paraassociações com outros blocos – além do acordo com o Mercosul,paralisado desde 2004, a UE pretende fazer associações comerciais com aComunidade Andina e os países da América Central. “É muito importante aAmérica Latina se integrar para ser mais forte, tendo em conta não só aquestão comercial mas também a questão social”, pondera Gaby Küppers.Nasua avaliação, uma parceria estratégica entre a União Européia e oBrasil poderia ser útil para o Brasil e a AL se envolvesse áreas comosoftware livre, saúde, respeito aos direitos humanos, combate aodesmatamento e novas fontes energéticas. “Há muitas possibilidades. Masquando se pega apenas um país e esquece todo o resto, não é exatamentepor motivos altruístas, sociais, e sim por motivos econômicos”, afirma. “Os Verdes pretendem acompanhar de perto a evolução dessaparceria em coordenação com os movimentos sociais brasileiros. Vamosperguntar a eles como querem que a gente interfira”.Osparlamenatares do Greens/EFA também pretendem expor suas posições aopresidente Luiz Inácio Lula da Silva caso seja confirmada reunião dele, napróxima quinta-feira (5), com lideranças dos oito grupospolíticos representados no Parlamento Europeu. O encontro deveacontecer em Bruxelas, após participação de Lula naConferência Internacional de Biocombustíveis. Um dia antes, o presidente estará em Lisboa para a Cúpula Brasil-União Européia, quando a parceria estratégica será oficializada.Saiba mais sobre a proposta européia para a parceria estratégica, que tem um capítulo dedicado às fontes energéticas, e sobre o histórico do diálogo entre Brasil e Europa. Conheça também a opinião da Rede de Integração dos Povos (Rebrip).