Pequenos agricultores indianos e brasileiros sofrem com falta de crédito e preços baixos

09/06/2007 - 14h12

Mylena Fiori e Erich Decat
Da Agência Brasil
Nova Delhi (Índia) e Brasília - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve esta semana na Índia para, entre outras coisas, fechar estratégias dos dois países nas discussões da Organização Mundial do Comércio (OMC). Na organização, os dois países trabalham juntos pela redução de barreiras tarifárias à exportação de produtos agrícolas.Mas não são só os governos dos dois países que têm dialogado a respeito de produção agrícola. A Via Campesina, coalizão mundial de movimentos sociais, reúne pequenos agricultores do Brasil e da Índia. Em seus encontros, os militantes da Via Campesina discutem as semelhanças e diferenças entre a realidade dos agricultores dos dois países.Na Índia, os pequenos agricultores sofrem com a falta de acesso ao crédito, os pequenos agricultores recorrem a empréstimos impagáveis. E, se não conseguem mais acesso à terra, engrossam as favelas nas periferias das grandes cidades, avalia Yudh-vir Singh, presidente do Sindicato dos Agricultores Indianos (BKU, pela sigla em hindi) de Nova Delhi.“Isso está acontecendo em todas as grandes cidades, como Delhi e Bombaim, Eles não conseguem competir no mercado de trabalho e não têm condições de pagar o alto aluguel”, conta o ativista da Via Campesina. “Antes 80% da população viviam da agricultura. Em 60 anos, 13% migraram para as cidades", denuncia Singh.A situação é semelhante no Brasil, segundo a diretora nacional do Movimento de Pequenos Agricultores (MPA), Maria José da Costa. "Nos últimos 20 anos, nós estamos passando por um processo de empobrecimento e de desestruturação muito grande. Isso vem causando uma certa exclusão dos pequenos agricultores no país”, avalia.Cerca de 70 % da alimentação brasileira é produzida pelas  8 milhões de famílias camponesas do país, segundo o MPA. Mesmo assim, sofrem com falta de crédito, como os indianos.Mas a solução, segundo o indiano Singh, não está em novos financiamentos, mas em uma política de preços mínimos. “Financiamento é uma ajuda temporária, não resolve o problema. É necessário que os agricultores tenham capacidade de pagar estes financiamentos e viver da agricultura e o único caminho, para isso, é garantir preços justos para os produtos agrícolas”, diz.Se a falta de crédito é uma bandeira igual, a reforma agrária já não é uma reivindicação na Índia. “No Brasil, as pessoas estão lutando pelo acesso à terra. Aqui já vencemos esta briga”, compara Singh. A reforma territorial no começo dos anos 50, logo após a Independência da Índia, estabeleceu limites constitucionais para a propriedade de acordo com a população de cada região. Em alguns estados, o limite é de seis hectares para terras irrigadas e o dobro para não irrigadas, por exemplo.Singh afirma que as novas regras foram implementadas na maior parte do país e permitiram o acesso à terra. “67% da população indiana, 730 milhões de pessoas, vivem da Agricultura. A maioria tem sua terras e é um pequenos agricultor”, diz. “No Brasil poucos têm muitas terras, alguns detém áreas maiores que um Estado. Aqui ninguém consegue entender isso”, diz.Os problemas, na Índia, são outros. “Agora estamos brigando com o mercado, contra as políticas públicas para a área agrícola. O governo não se preocupa com a comunidade agrícola, as ignora, está totalmente voltado ao desenvolvimento do setor industrial e das grande cidades”, menciona.