Mylena Fiori
Enviada especial
Nova Delhi (Índia) - Assim como os governos brasileiro e indiano, agricultores dos dois países também têm um discurso afinado quando o assunto é Organização Mundial do Comércio (OMC). Contrariamente à posição governamental, acreditam que têm muito a perder com as negociações."Em países como Índia, Paquistão e Bangladesh não temos condições de competir com as grandes empresas do setor agrícola e os grandes agricultores dos países desenvolvidos. Eles tem muitos subsídios e querem, com a ajuda da OMC, colocar seus excedentes agrícolas nos países em desenvolvimento. Por isso nós fazemos oposição às negociações”, justifica Yudh-vir Singh, presidente do Sindicato dos Agricultores Indianos (BKU, pela sigla em hindi) de Nova Delhi.Brasil e Índia lutam, na OMC, por maior acesso a mercados internacionais para os produtos agrícolas dos países em desenvolvimento. Retórica, na opinião dos agricultores indianos. “Na Índia, a agricultura não é um negócio, é a cultura do povo. As pessoas vivem disso”, diz Singh. “Somos tão pequenos que não temos condições de vender nossos produtos no mercado interno, somos explorados em casa, como podemos exportar? O governo diz que hoje há um mercado global e que podemos vender nossos produtos no mercado internacional. Isso é uma piada para os agricultores indianos”, afirma o ativista. “Se as condições da OMC foram totalmente implementadas, e todos puderem importar ou exportar em qualquer quantidade, em pouco tempo a agricultura vai acabar na Índia”.Ele reconhece que, no Brasil, a situação é diferente pois temos produtos para exportar. Ambos, porém, têm um mesmo temor: o apoio financeiro – os chamados subsídios - concedido pelos países desenvolvidos a seus agricultores. “Estamos na mesma condição. Não temos subsídios como os países desenvolvidos e não temos condições de competir com eles. Os subsídios é o que mais ameaça os agricultores dos países em desenvolvimento”, avalia.