Alessandra Bastos
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O relator da ComissãoParlamentar de Inquérito (CPI) do Apagão Aéreo,senador Demóstenes Torres (DEM-GO), afirmou hoje (28) que a causaprincipal do acidente entre o avião da Gol e o jato Legacy, emsetembro do ano passado, foi o fator humano. Na avaliaçãodele, depois de ouvir depoimento dos controladores de vôo queestavam em serviço no momento do acidente, em Brasília,a falha principal foi do controlador de vôo da torre deBrasília Jomarcelo Fernandes dos Santos, que é sargentoda Aeronáutica: “O Jomarcelo teve culpa maior que os demais,porque tinha como rebaixar o Legacy de 37 mil para 36 mil pés.”Segundo o senador, oinquérito da Polícia Federal sobre o caso, ao qual aCPI teve acesso, mostra gravação em que o controladorrecebe dos pilotos do Legacy a informação de que, perto deBrasília, o avião estava ainda a 37 mil pés, e nãoa 36 mil, como deveria, para evitar a colisão com o aviãoda Gol.O advogado doscontroladores de vôo, Normando Cavalcanti, reclamou aosjornalistas ao final da sessão da CPI da acusaçãoprematura do senador. “Não concordo com a opinião dorelator de culpar o controlador categoricamente. Não háprovas de que o Jomarcelo foi o culpado. Temos provas, pelocontrário, de que ele adotou todas as normas da Aeronáutica”,disse. No depoimento,Jomarcelo Fernandes dos Santos alegou que houve falha no sistema. O controlador explicouque, durante todo o tempo, se baseou no que as telas mostravam, ouseja, 36 mil pés. "Eu tenho que confiar na informação que tenho na tela. Se fosse checar com os aviões de minuto a miunuto, o sistema ficaria congestionado", justificou. Ele relatou que acompanhava, então, outros quatro vôos. O advogado tambémse queixou do tratamento dado aos controladores durante odepoimento. “Ele [o relator] não deixou eles [oscontroladores] terminarem as respostas. Era uma pergunta atrásda outra. Quem vai julgar realmente é o poder Judiciário.Não vai ser o Senado nem a Câmara.”O inquérito daPolícia Federal que apura o caso foi concluído no dia 8, com o indiciamento dos dois pilotosnorte-americanos do Legacy e a recomendação de quehouvesse mais apuração por parte da Aeronáuticaquanto à eventual responsabilidade dos controladores.Segundo o senadorDemóstenes Torres, o segundo erro de Jomarcelo Fernandes dos Santos foi não alertar oscolegas que o sucederam no serviço que osistema mostrava nas telas o avião a 36mil pés, diferentemente do que informavam os pilotos. Como, minutos depois, o transponder (equipamento queprevine colisões) do Legacy se desligou, os demaiscontroladores não perceberam, naquele momento, nenhumproblema. Para o relator da CPI,a falha dos outros controladores foi não ter avisado àtorre de Manaus que o Legacy voava com o transponder desligado. “Não tenho dúvida de que Jomarcelo teve a falha maisgrave, porque não determinou esse rebaixamento e quandotransferiu o serviço, não comunicou aos demaiscontroladores que o avião estava a 37 [mil pés].”No depoimento do controlador, Demóstenes questionou o tempo de experiência docontrolador, que respondeu realizar o serviço há um anona época do acidente. Na opinião do relator,a experiência, nesse caso, é determinante. Prestaram depoimentoJomarcelo Fernandes dos Santos e dois outros controladores que estavam trabalhando em Brasília nodia do acidente: os sargentos Lucivando deTibúrcio de Alencar e Leandro José dos Santos Barros.Além deles, depôs o sargento queestava na torre de Manaus, Francisco Roberto Agostinho Freire. Para orelator, Manaus não teve culpa no acidente.Alencar disse à comissão que a comunicação no tráfego aéreo só é feita com informações precisas, e não na falta delas: "Não posso dizer 'acho que o transponder está com problema'. Avião funciona com informação precisa. Por isso tentei contato com o piloto e passei a Manaus as informações de nível de vôo, horário, rota e ponto de coordenação." Ele acrescentou que naquela região é normal as aeronaves perderem contato e "sumirem" no radar, o que teria feito com que o fato não fosse encarado como anormalidade. A CPI ainda ouve outrosquatro militares que trabalhavam no controle de vôo na data doacidente: o coronel-aviador Eduardo dos Santos Raulino, o coordenadorde supervisores, tenente Antonio Robson Cordeiro de Carvalho, e ossargentos Antonio Francisco Costa de Castro e Alexandre XavierBarroca.