Preconceito dificulta combate à violência sexual, afirma ex-menina de rua

17/05/2007 - 19h15

Ana Luiza Zenker
Da Agência Brasil
Brasília - O Dia Nacional de Combateao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, nesta sexta-feira (18), lembra o caso da menina Aracelli, ocorrido em 1973 em Vitória (ES). Aracelli eraum menina de apenas oito anos quando foi assassinada, depois de sofrerviolência sexual.Com o lema “Esquecer é permitir, lembrar é combater”,cerca de 300 crianças e adolescentes se reuniram nesta quinta-feira(17) em frente ao Congresso Nacional e ao Palácio da Justiça. Elas nãofizeram manifestações com palavra de ordem ou marchas, mas ocuparam ogramado com expressões artísticas e brincadeiras.A ex-menina de rua e hoje aprendiz de educadorasocial Raquel Andrade diz que esse é um dia para lembrar que existeimpunidade. Desde os nove anos de idade ela participa do MovimentoNacional dos Meninos e Meninas de Rua (MNMMR), no Recanto das Emas(DF). Ela conta que a motivação para continuar na luta contra aimpunidade é a indignação que sente em relação à dificuldades quemeninos e meninas passam por não terem apoio institucional.Raquel acredita que “o preconceito da sociedade fazcom que as pessoas fiquem fechadas para o assunto do abuso e daexploração sexual”. “Quando uma menina sofre algum tipo de abuso,muitas vezes isso acontece na própria família, e quando ela conta pramãe, ou pra algum parente, eles falam 'ah, não, você tá mentindo, vocêque quis, você que tá vestindo essa roupa aí, que tá se mostrando e fezcom que ele chegasse a fazer isso com você'”, afirma.Para tentar diminuir o silêncio das crianças eadolescentes que sofrem abuso sexual, Raquel cita uma experiência daqual ela já participou depois que entrou no MNMMR. É o “FalaJuventude”, um projeto que trabalhava essa temática em escolas e postosde saúde, a fim de quebrar o tabu de se falar no assunto.Raquel contaque era nos momentos de debate que mais surgiam denúncias de crianças eadolescentes que sofreram abuso ou exploração. No entant,o ela lamentaque nem sempre experiências desse tipo sejam possíveis, fazendo com quemuitos casos sejam encobertos pelo silêncio da vergonha e dopreconceito.