Analistas atribuem queda do dólar no Brasil à manutenção dos juros nos Estados Unidos

10/05/2007 - 11h08

Edla Lula
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O dólar caiu, nessa quarta-feira, abaixo dos R$ 2,02 pela primeira vez desde2001, encerrando o dia a R$ 2,019. Segundo analistas, influenciou a decisão doFederal Reserve (Fed), o banco central americano,de manter o juro em 5,25% ao ano, sem sinalização de que a taxa possa se elevar naquele país."A decisão do Fed causou um certo otimismo ea procura pelos mercados emergentes, como o Brasil", disse Alex Agostini,economista chefe da agência de classificação de risco Austin Rating. Segundo ele, como atendência é que os Estados Unidos não aumentem sua taxa, os investidoresprocuram mercados com taxas mais elevadas, como é o caso da Selic, atualmenteem 12,5% ao ano.Para Agostini, o otimismo vai continuar, o que deve pressionaro câmbio ainda mais. Ele acredita que nos próximos dois meses o dólardeverá valer menos que R$ 2,00, sem que o Banco Central possa segurá-lo."O potencial de compra do Banco Central élimitado e o do mercado não é", diz o economista, para quem o BC está perdendona quede de braço com os investidores.Agostini lembrou que além da elevada taxa dejuros, o Brasil dispõe hoje de um cenário muito seguro para os investidores, comrisco-país abaixo de 160 pontos, reservas acima dos US$ 122 bilhões e todos osindicadores econômicos positivos.O custo das constantes compras de dólaresque vêm sendo realizadas pelo BC, com o objetivo de elevar o câmbio, preocupaos analistas.As compras ajudam a engordar as reservas internacionais, mas o preço a ser pago pelo BC é alto. "Abrincadeira ficou mais cara e isso acabou afetando a rentabilidade dasreservas", diz Agostini.Para o economista, as intervenções do BCtiveram importância porque "graças a elas o dólar não está há muito tempoabaixo dos R$ 2,00".  Ele tambémacredita que o dólar mais barato é o que tem ajudado a manter a inflação sobcontrole. "Há mais benefícios do que prejuízos com este câmbio".Eliana Graça Magalhães, economista doInstituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), vê a situação com maior preocupação.Para ela, há um prejuízo social embutido nas atuações do Banco Central, quepodem desembocar na desindustrialização do país e conseqüente desemprego. "Nãohá razão para manter essa política de estímulo ao capital especulativo. Essedinheiro poderia ser usado para estimular o capital produtivo, que é o que vaipromover o desenvolvimento do país como deseja o governo", diz ela.Asaída, para a economista, seria a redução mais acelerada da taxa básica dejuros e a abertura para uma inflação um pouco maior. "Ninguém está defendendo avolta da inflação, mas o Brasil poderia dar uma olhada ao redor e buscar a experiênciade países que convivem com uma inflação mais elevada e com bom nível decrescimento econômico", disse, citando Argentina e Venezuela.