Érica Santana
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Há um ano ooperador de telemarketing Cícero Matos, paulista de 32 anos, estáafastado do trabalho. Acostumado a atender a dezenas de telefonemas pordia, ele teve uma crise de choro durante o expediente, vencido pelo estresse causado pela profissão em que atua desde 2000. Excesso de cobrança e falta de respeito são, segundo ele, osprincipais fatores que desencadearam a crise: “Eu entrava na linha ecomeçava a chorar. Imagina um homem de 32 anos chorando dentro dodepartamento porque não conseguia mais trabalhar. Tive que me afastar da empresa por um período, para fazer tratamento, porque não controlava mais minhas emoções". Cícero Matos explicou que os operadores de telemarketing sofrem tanto com a pressãopor parte dos patrões, para alcançar metas, quanto com a violênciapsicológica por parte dos clientes. “A gente tem que se comportar nalinha, obedecer à norma da empresa em que trabalha e daquela para a qual presta serviço. Não pode se expor junto ao cliente, mas muitas vezes a gente é xingado, com ofensas à mãe e ao pai, e tem que responder que está tudo bem, com educação". O diagnóstico para ele foi de transtorno bipolar. Hoje, Cícero Matos usa remédios para controlar o estresse e a ansiedade, mas segundo ele, o Instituto Nacional do Seguro Social não reconhece o estresse como doença relacionada ao trabalho. "Eles só reconhecem quando o trabalhador sofre um acidente físico dentro da empresa, para eles o estresse não é um acidente de trabalho e isso nos causa uma série de problemas". Apesarde o ambiente de trabalho não ser ideal, Cícero diz que não quer deixara profissão: “Eu aprendi a amá-la e a me dedicar a ela, mas é umaprofissão que precisa ser mais respeitada”. Paraele, o decreto presidencial publicado ontem (13) no Diário Oficial da União, mudando as regras de concessão do seguro de acidente de trabalho, "vaimelhorar alguns aspectos, mas não vai mudar a situação” dos operadoresde telemarketing. “Eu acredito que é um avanço, mas eu acho quedeveria ser aprimorado, porque nós temos leis trabalhistas ainda muitobrandas. A gente tem uma Consolidação das Leis do Trabalho antiga, que precisa de uma reestruturação”, acrescentou. Ele lembrou que a profissão só está regulamentada "dentro do sindicato, por meio de acordo coletivo, e ainda consta como trabalho administrativo com jornada de oito horas".