Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - O ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, participou na noite desta quinta-feira (9) da inauguração do Memorial Pessoas Imprescindíveis, em homenagem aos estudantes Antonio Carlos Nogueira Cabral e Gelson Reicher, vítimas da ditadura militar. O memorial foi criado a partir de parceria entre a Secretaria e o Centro Acadêmico Oswaldo Cruz (Caoc), da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Segundo o ministro, que lembrou ter sido secretário do Caoc em 1970, a inauguração do memorial resgata um momento importante na história do Brasil. "O país que não tem coragem de olhar profundamente para o seu passado, para saber o que aconteceu, o que foi a ditadura, o que foi a tortura, e se recusa a fazer esse exame, não terá plenas condições de construir hoje uma sociedade sem violência”, disse.Vannuchi destacou que o memorial também servirá para a nova geração “reconhecer o bem da democracia e compreender que agora, com todos os defeitos e desequilíbrios que o nosso país continua tendo, pelo menos já há condições de decidir as disputas através do voto, através da vida partidária”. De acordo com Ciro Matsui Junior, diretor do Centro Acadêmico Oswaldo Cruz, a inauguração é apenas o primeiro passo de um projeto que pretende retomar a memória do Centro e a do movimento estudantil. “Desde 2005, temos um projeto de restauro e de organização do arquivo histórico”, afirmou. Para ele, com a inauguração será retomada "a memória desses dois estudantes e também muitas das bandeiras de luta que eles tinham naquela época, em prol da democracia, da liberdade e de uma sociedade mais igualitária”.Vannuchi informou também que a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos deve entrar agora em uma segunda fase de trabalho – a de localização das ossadas, pois mais de 100 corpos de brasileiros mortos e desaparecidos na época da ditadura ainda não foram localizados . “É fundamental que a sociedade civil mantenha esse tipo de pressão e que os governos reconheçam sua responsabilidade para, juntos, mantermos esforços para localizar esses corpos”, disse.Antonio Carlos Nogueira Cabral foi estudante de medicina da USP e presidiu o Caoc. Segundo a versão oficial, teria morrido após um tiroteio, quando resistia à prisão, na casa onde morava. A família reconheceu o corpo, que tinha dado entrada no Instituto Médico Legal (IML) como desconhecido no dia 19 de abril de 1972. O grupo Tortura Nunca Mais informou que os relatórios dos ministérios da Marinha e da Aeronáutica apontam a morte de Cabral no dia 12 de abril de 1972. Gelson Reicher estudava na mesma faculdade e era militante da Ação Libertadora Nacional (ANL). No dia 20 de janeiro de 1972, aos 23 anos, morreu depois de alvejado por policiais do DOI-Codi de São Paulo. De acordo com o relatório do Ministério da Marinha, Gelson “morreu em intenso tiroteio com agentes de segurança”.