Presidente eleito da Nicarágua está "mais para Lula que para Chávez", diz historiador

08/11/2006 - 15h13

Roberta Lopes
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O presidente eleito da Nicarágua, Daniel Ortega, tem um perfil mais parecido atualmente com Luiz Inácio Lula da Silva do que com Hugo Chávez. A avaliação é do mestre em História Carlos Eduardo Vidigal, que avaliou a vitória de Ortega comparando-o aos líderes do Brasil e da Venezuela.Ortega, do partido esquerdista Frente Sandinista de Libertação Nacional, foi declarado vencedor com 91,48% das urnas apuradas – tinha 38,07% dos votos, contra 29% de Eduardo Montealegre, da Aliança Liberal Nicaragüense. Ele, que já foi presidente e guerrilheiro, tomará posse no dia 10 de janeiro de 2007 para um mandato de cinco anos.O historiador acredita que o fato de Ortega ser de esquerda e ter sido figura-chave da resistência à influência norte-americana no passado não criará necessariamente um atrito com a administração George W. Bush.“Essa possibilidade não é certa porque durante os discursos de campanha, Ortega se distanciou de Chávez. Essa questão vai depender muito dos acontecimentos nos próximos meses, até porque Ortega está mais para Lula do que para Chávez”, afirmou.Vidigal, no entanto, lembra que Hugo Chávez declarou apoio a Ortega. E acredita que caso o novo presidente radicalize nas reformas sociais e na aliança com o governo venezuelano, os Estados Unidos farão uma forte oposição.Independentemente da reação norte-americana, o historiador não vê risco de uma atitude agressiva. “Hoje temos uma conjuntura muito diferente, não há espaço político para intervenções na região como ocorreram na década de 1980”.  Segundo ele, a eleição de Ortega significa para os Estados Unidos a perda de uma área de influência na América Central. A Nicarágua será o único país da região com um governo de esquerda e não alinhado.O mestre em Ciência Política Nielsen de Paula Pires vê uma semelhança entre o futuro governo de Ortega e a administração Lula, devido ao “programa político com enfoque social”. O novo governo terá vários desafios, segundo ele, e o principal é a pobreza. “A Nicarágua possui 5 milhões de habitantes e 70% deles vive na condição de pobreza ou de pobreza extrema”.