Grupos para qualitativas são montados de acordo com a classe social

27/10/2006 - 0h34

Spensy Pimentel
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Antes de ser aceita para participar de um grupo de pesquisa qualitativa paracampanhas políticas, a pessoa é entrevistada. Como explicam as pesquisadorasKarin Cohen e Mônica Numan, ela não pode ser filiada a um partido político, nempertencer ou ter parentes que pertençam a determinadas classes profissionais,como jornalismo, publicidade e marketing, por exemplo. As pessoas que vão comporo grupo não podem se conhecer previamente, também.Os selecionados ganham dinheiro pela participação (normalmente, entre R$ 30e R$ 150, conforme a classe social) e são informados previamente de que asessão será gravada e observada pelo espelho falso. Não é dada nenhuma pistasobre qual será o tema de que se vai ter de falar.Cada grupo terá entre seis e dez pessoas. Menos que seis pode dar resultadosfracos. Mais que dez dificulta a análise dos resultados. O primeiro critériopara seleção é a classe social, por itens de conforto presentes na residência(geladeira, fogão, televisão, DVD, computador etc.), conforme critérios doInstituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).Pessoas de classe A e B, em geral, são separadas das de classe C, D eE, porque os marqueteiros consideram que as pessoas com menor nível deescolaridade podem ficar inibidas diante das mais instruídas. "As pessoasfalam mais, ficam menos tímidas assim", explica Márcia Cavallari, diretoraexecutiva do Ibope.Da mesma forma, nos grupos de classes mais baixas, normalmente, não hágrupos mistos de homens e mulheres, porque estas, em geral, tendem a ficarinibidas, como explicam Karin e Mônica. De forma geral, porém, os grupos são compostos por 50% de homens e 50% demulheres. Metade do grupo será de eleitores do candidato e metade de nãoeleitores. Geralmente, as pessoas tem entre 25 e 40 anos, porque é nessa faixaque está a maioria dos eleitores.Em todos esses quesitos, pode haver variações, conforme a finalidade dapesquisa: um político pode querer saber apenas o que pensam dele eleitoresindecisos, ou de uma determinada região, ou faixa etária etc. A não ser que setrate de pesquisas específicas, não são considerados quesitos como raça,religião e preferência sexual.Os grupos montados para acompanhar os debates de TV têm algumasespecificidades. Isso porque não é possível ter muitos grupos ao mesmo tempo,já que é preciso ter agilidade para repassar as informações aos assessores doscandidatos. A particularidade das campanhas presidenciais é que, devido à diversidade dopaís, é normal montar grupos em pelo menos três capitais: uma do Sul, outra doSudeste e outra do Nordeste. Fora da situação de emergência que é o debate,Márcia Cavallari calcula que é preciso montar dois grupos por cidade, em novecapitais de quatro regiões.O custo não é pequeno, e as pesquisas têm sido, nas últimas décadas, um dos principais fatores a "inflacionar" o preço das campanhas políticas. Uma única sessão de qualitativa custa entre R$ 5 mil e R$ 10 mil, segundo as pesquisadoras consultadas. Isso ainda não inclui o que se paga para os profissionais que fazem as análises dos relatórios. Numa campanha presidencial, que  tem necessidade de encomendar pesquisas em todo o país, o custo pode ser, literalmente, milionário. Em geral, os grupos são compostos por pessoas de classes C e D (querepresentam, nos cálculos das pesquisadoras Karin Cohen e Mônica Numan, cercade 70% da população brasileira). "Além disso, se houver problema deentendimento, são as pessoas de menor escolaridade que tendem a terdificuldades", como lembra Cavallari.O perfil típico de uma pessoa que compõe um grupo desses, segundo aspesquisadoras: tem renda familiar entre R$ 600 e R$ 1200; cursou, no máximo, oensino fundamental (1º grau) completo; trabalha, em geral, semcarteira assinada. Márcia cita números do Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística: 58% dos brasileiros têm até 8a série; 31%, cursaram atéo ensino médio; só 11% da população teve acesso ao ensino superior.