Entidades dizem que nada mudou depois de um ano da aprovação, por referendo, do comércio de armas

23/10/2006 - 18h32

José Carlos Mattedi
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Há um ano, os brasileiros, em referendo popular, diziam nãoà proibição do comércio de armas de fogo e munição no país. Segundo asentidades que participaram da campanha, sua aprovação nas urnas não trouxeresultados visíveis, nem para quem votou pelo não à proibição nem para aquelesque preferiam o sim (pelo fim da venda de armas).Na avaliação do presidente do Movimento Viva Brasil - quefez campanha pelo não -, Bené Barbosa, após o referendo muito pouca coisamudou, e se mudou “foi para pior”. “Adquirir uma arma ainda é extremamente difícil e caro.Somente uma elite tem acesso a ela”, disse. Ao contrário do que se poderiapensar, diz Bené, a venda de armas vem caindo a cada ano.“É uma tendência devido aos altos preços, aos impostos quesão embutidos na fabricação e, principalmente, por causa dos entravesburocráticos e o valor da taxa”, destacou. “As pessoas vão à loja, mas aosaberem de toda a burocracia e das taxas, acabam desistindo”. Na opinião do presidente do Viva Brasil, fica a suspeita deque ocorre uma "proibição velada" à posse de arma, “apesar dapopulação ter votado pelo não à proibição”. Ainda de acordo com Bené, o Estatuto do Desarmamento(aprovado em 23 de dezembro de 2003) criou um excesso de burocracia para acompra de armas e munição, enquanto a venda da arma ilegal continua crescendo.“Um ano após o referendo, percebemos que o grau deinsegurança continua enorme, pois as políticas de segurança pública continuamfracas. Há um aumento da criminalidade e uma insegurança ainda maior”, afirmou.O Instituto Sou da Paz, que fez campanha pelo sim, tambémnão viu nenhuma mudança real com a não proibição do comércio de armas de fogo emunição. Mas comemora os bons resultados conseguidos no país após aimplementação do Estatuto do Desarmamento, que passou a exigir maior controlesobre a compra e o registro de armas.“A venda continua muito baixa. Desde 2003 caiu 92%, segundoos próprios comerciantes de armamentos. Por isso, diminuiu também o número demortes por armas de fogo. Agora temos que proteger essa lei e ajudar aimplementá-la em sua totalidade, pois aqueles que lideraram a campanha do não,que foram claramente financiados e apoiados pela indústria de armamento, buscamesvaziá-la ou colocá-la em descrédito. A sociedade brasileira tem que estaratenta”, alertou a diretora do Sou da Paz, Mariana Montoro.