Thiago Brandão
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Os quase mil índios Xikrin que vivem na terra Catete, no Pará,recebem anualmente da Companhia Vale do Rio Doce R$ 9 milhões. Os recursos são administrados por duas associações indígenas, ligadas a cada uma das duas aldeias localizadas nos 420 mil hectares vizinhos de uma mina de ferro explorada pelaempresa. As aldeias Catete e Djudjekô ficam distantes 16 quilômetros umada outra. Nesta semana, os índios ocuparam asinstalações da Vale em Marabá (PA) para reivindicar uma discussãosobre o reajuste dos repasses que, segundo a Fundação Nacional doÍndio (Funai), estava prevista desde maio.O gerente da Associação Indígena Kakarekré (ligada àaldeia Djudjekô), Francisco de Oliveira Ramos, afirmou em entrevista à Agência Brasil que “o dinheironão é usado para comprar roupa e relógio, como algumas pessoas pensam”. E explicou que "esse dinheiro é usado em transporte, em atividades produtivas, emeducação, na compra de combustível para geração de energia, navigilância da terra, na promoção da saúde, da subsistência dos índios”.De acordo com Ramos, a última discussão sobre os repassesocorreu em 2004. Ele defendeu a definição de um índice – "o deinflação, talvez" – que reajustasse o valor “sem que fosse necessário esse desgaste, que acontece todo ano”.Neste ano, informou, “construímos seis casas na aldeia Djudjekô, casas de 130 metros quadrados, em quevivem às vezes três famílias – há um déficit de moradia”. Ramos afirmou que a cidade de referência dos índios Xikrin paranecessidades hospitalares, por exemplo, é Marabá, distante 450 quilômetros daterra Catete. “Dentro de toda a terra há apenas 137 quilômetros de estrada. Sãoestradas feitas com cuidado, sem devastação da mata, quase trilhas, eprecisamos fazer a manutenção delas constantemente. Depois de todoinverno, quando chove, as pequenas pontes ficam danificadas, asestradas ficam obstruídas. Isso tem um custo”.O gerente daassociação também disse que a escola “de quatro salas” da comunidade foi construída com recursos repassados pela Vale. Segundo ele, três professores e uma merendeira da escola são pagos pelomunicípio de Paraupebas (PA) e a associação fornece uma ajuda de um salário mínimo aos funcionários. Um quarto professor, índio,tem o salário pago integralmente pela associação, acrescentou.“Os bancos, as instituições financeiras, que financiaram oempreendimento da Vale exigiram contrapartidas da empresa em benefíciodos índios da região. Não é caridade”, avaliou.A Companhia Valedo Rio Doce, uma das maiores empresas de mineração e metais do mundo, atua em 14 estados brasileiros e em cinco continentes. Aprodução diária da empresa em Carajás é de 250 mil toneladas de minériode ferro.Os Xikrin ainda aguardam que a empresa confirme presençana reunião marcada para o próximo dia 26, na sede da Funai emBrasília, para discutir o reajuste dos repasses.