Especialista diz que relacionamento difícil com agências inibe pesquisas contra a aids no país

15/10/2006 - 18h05

Adriana Brendler
Repórter da Agência Brasil
Rio de janeiro - O coordenador do Grupo de Apoio a Portadores de Aids deMinas Gerais (Gapa/MG), Roberto Chateubriand, afirmou hoje (15) em entrevista àAgência Brasil, que as relações dos centros de pesquisa com as agênciasreguladoras como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), aComissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e a Comissão Técnica Nacional deBiossegurança (CNTBio), dificultam o desenvolvimento de pesquisas para criaçãode vacinas e medicamentos contra a aids. De acordo com Chateubriand, o Brasil possui recursos humanose tecnológicos suficientes para expandir as pesquisas, mas enfrenta questõestécnicas e burocráticas, além de obstáculos de ordem financeira.Ele foi um dos debatedores do painel sobre os investimentosem pesquisas clínicas no Brasil realizado esta tarde no 13º Encontro Nacionalde Pessoas Vivendo com HIV/Aids.Chateubriand explicou que para os projetos de pesquisa iremadiante, precisam receber autorização dos órgãos reguladores, mas o processo écomplicado, pois, segundo ele, há falta de diálogo. “Muitas vezes há problemasporque parecem existir monólogos e não uma mesa-redonda para que se possanegociar e discutir com segurança, ética e garantia para a comunidade como umtodo e para a comunidade científica a evolução de produtos na área de HIV e aids”,afirmou. Chateubriand, que também é membro do Conselho Nacional deVacinas Ainti-Aids, apontou ainda a falta de integração entre as os órgãosreguladores, o que torna lenta a aprovação de protocolos de pesquisas.“Linguagens e códigos são distintos em cada uma das agências, fazendo com que omesmo protocolo demore meses e até mesmo anos para receber o aval completo paraseu pleno desenvolvimento”, reclamou.Ele defendeu que “todos os esforços devem ser empreendidos”para agilizar a análise e aprovação dos projetos. “É preciso dar maior fluideznesse processo, sem abrir mão da segurança e do compromisso ético, que devempautar essas investigações, sobretudo porque são pesquisas que envolvem sereshumanos. Precisamos, sim, encontrar um meio termo para que não fiquemosamarrados na malha burocrática”.  Segundo Chateubriand, a falta de agilidade das agênciasreguladoras gera perda de recursos financeiros, dificulta o desenvolvimento daciência e da tecnologia local e prejudica a credibilidade do país junto aórgãos internacionais de pesquisa, afastando futuros investimentos.O coordenador do Gapa-MG observou que os prejuízos para ospacientes são ainda maiores, “na medida em que ficamos cada vez maisdependentes de produtos desenvolvidos fora do Brasil”. Conforme Chateubriand, alógica da indústria farmacêutica internacional muitas vezes prioriza a lógicado mercado e não a da saúde, mantendo os produtos “a preços altíssimos einacessíveis a população brasileira”.