Ministério da Saúde nega piora na assistência à saúde mental

28/09/2006 - 22h14

Thiago Brandão
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O coordenador-geral da área de saúdemental do Ministério da Saúde, Pedro Gabriel Delgado, afirmou, ementrevista à Agência Brasil, que a redução do número de leitos emhospitais psiquiátricos tem seguido um planejamento. “Ocorre que emalguns lugares está havendo o fechamento unilateral de leitos. Oshospitais fecham o leito sem qualquer participação do ministério. Elesse descadastram do SUS [Sistema Único de Saúde]”, explicou.

Delgadorejeitou as críticas feitas por especialistas em saúdemental que se reuniram no Fórum Ética e Políticas Públicas de Saúde, realizado em Brasília na semana passada, dentro do 3º SimpósioInternacional Sobre Depressão e Transtorno de Humor Bipolar. Segundoesses especialistas, o modelo de assistência à saúde mentalconduzido pelo governo não é adequado: o fechamento de leitospsiquiátricos não seriaacompanhado pela criação de alternativas de tratamento.

O coordenador lembrou que “as pessoas não saem dos leitos e vão para as ruas epresídios”, como afirmou o professor Valentim Gentil, da Universidadede São Paulo (USP). E disse que “foram criados serviços extra-hospitalares, osCentros de Atenção Psicossocial (Caps), que são capazes de atenderpacientes que só tinham como opção de tratamento a internação emhospital psiquiátrico. A redução de leitos não significa menosassistência”.

Os Caps, explicou, atendem inclusive os pacientes em crise. Dados do Ministério da Saúde informam que nos 916 Centros do país são atendidas 450 mil pessoas – em 2000eram 170 Centros. E que a rede de assistência mantida pelo ministério inclui 400ambulatórios e 490 residências terapêuticas monitoradas (casas ondevivem pacientes que perderam vínculos familiares).

Segundo Delgado, os transtornos mentais nos brasileiros estão acima dos níveis esperados: “A esquizofrenia atinge 1% dapopulação, por exemplo. Os transtornos graves – psicóticos, somados àesquizofrenia – alcançam 3%; os distúrbios gerados pela dependência de álcool, 10% da população acima de 12 anos. Então,a magnitude do problema exige grande disponibilidade de serviços. Acrise social e a violência urbana afetam a saúde mental das pessoas”.

O número ideal de Caps no Brasil seria de 1.200, na avaliação do coordenador: “Nem todos osmunicípios precisam de centros de atendimento, já que 70% das cidadesbrasileiras têm menos de 20 mil habitantes e eles são bem atendidos quandohá algum programa de atenção básica à saúde mental”.Outracrítica rebatida por Delgado é a de que o tratamento conduzidopelo governo seria fruto de uma ideologia que nega a doença: “Nãonegamos a doença, mas, é verdade, houve uma mudança de concepção. Oentendimento sobre o tratamento se diferencia do modelo convencional,baseado em medicamentos e hospitais. Os conhecimentos em psiquiatriaavançaram e tentamos acompanhá-los”.