Brasileiro que esteve em bombardeio durante enterro de parente foge do Líbano amanhã

31/07/2006 - 20h27

Julio Cruz Neto
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Depois de passar muito sufoco nos últimos dias, quando chegou a fugir de bombas israelenses inclusive durante o enterro de um parente, Mohamed Abdouni parte amanhã (1º) para uma longa jornada de fuga do Líbano. Ao lado do pai, um senhor de 79 anos que mal pode caminhar, ele estará em mais um comboio de ônibus rumo a Damasco, na Síria, para depois embarcar em um vôo para o Brasil, com chegada prevista para o final desta semana. Ao chegar, terá uma infinidade de histórias tristes para contar.Na manhã de 18 de julho, Abdouni, um paulistano de 48 anos, filho de libaneses, viu três mísseis caírem sobre a fábrica de móveis do irmão de seu cunhado. Ligou para a residência dele e foi perguntando, um a um, pelos membros da família. Descobriu que Dib Barakat, de 61 anos, tinha se tornado mais um brasileiro vítima fatal da guerra.“Ele morreu na hora, foi uma morte horrível. Mais uns dez minutos e tinham pego mais 20 funcionários”, lembra Abdouni, em entrevista por telefone à Agência Brasil. Devido ao péssimo estado do corpo, o enterro foi feito às pressas. Coincidentemente, no mesmo momento de um novo bombardeio.“Mandaram oito mísseis a 200 metros da gente. Na hora pensei ‘morri’, e me escondi atrás de um muro. Tinha pessoas se escondendo dentro de túmulos”, conta o brasileiro, que no dia seguinte notou que a montanha ao redor estava branca – segundo ele, sinal de que foram usadas bombas de fósforo, que matam por asfixia e queimadura.Como torres de comunicação foram destruídas pelos bombardeios, Abdouni não tem comunicação fácil. Ligações telefônicas cortadas várias vezes, o que dificulta, também, a leitura das notícias no computador. “Não dá para fazer nada. Sair de carro, ir no mercado, nada. Os remédios que vêm de Beirute não chegam até aqui. Os caminhões grandes não têm coragem de entrar. Só louco que nem eu ficou aqui”.Abdouni vive desde 1997 no Vale do Bekaa, uma das regiões mais atingidas pelos ataques de Israel e onde o resgate tem sido mais complicado. Depois de muitas negociações do governo brasileiro com Israel e Síria, o comboio está pronto para sair amanhã (1).