Brasiliense relata dificuldade para dependente de álcool ser atendido

16/07/2006 - 13h02

Alessandra Bastos
Repórter da Agência Brasil
Brasília - VA, que não quer ter o nome divulgado, conta que há cinco anos procurou o Sistema Único de Saúde (SUS) para tratar da dependência do álcool e não conseguiu. Ela relata que, desesperada, saiu de lá, tomou uma garrafa de tequila e tentou o suicídio.A família procurou novamente um hospital público. Desta vez, VA diz que foi encaminhada à área de psiquiatria. “O psiquiatra disse que eu tinha problemas mentais, mas em nenhum momento falou de drogas ou do álcool”, diz. “Antes de ter tentado suicídio, fiz dois anos de tratamento com uma psicóloga. Ela também nunca falou a respeito da minha dependência pelo álcool”.Segundo seu relato, VA continuou bebendo por três anos até que, sozinha, procurou ajuda nos Alcoólicos Anônimos (AA). Hoje com 27 anos e há um sem beber, ela diz temer o preconceito, principalmente no ambiente de trabalho. O assessor técnico de Saúde Mental, área responsável pelo tratamento de dependentes do Ministério da Saúde, Francisco Cordeiro, explica que a atual política tem como foco tratar os dependentes fora dos hospitais, privilegiando a companhia da família. “A gente tem que criar a cultura de que é possível tratar as pessoas que são dependentes de uma forma que não seja unicamente em hospital. Pelo contrário, a gente está querendo tirá-los do hospital”.Segundo ele, 11% da população adulta brasileira é dependente de álcool. “A gente tem que trabalhar com outras possibilidades, porque se não, a gente vai acabar glorificando uma sociedade anti-álcool e anti-drogas, sendo que essas substâncias existem desde que o mundo é mundo”.Para VA, a política do SUS se dirige apenas “a quem não tem problemas com o álcool, àquelas pessoas que bebem socialmente e às vezes passam da conta”.A diretora de Prevenção e Tratamento da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), Paulina Duarte, explica que, antigamente, alcoólatras e dependentes químicos só eram aceitos em hospitais psiquiátricos. Hoje o internamento de dependentes é feito em hospital-geral.“Os hospitais tiveram que se adequar a isso e tem dado muito certo. O uso e a dependência de drogas são problemas de saúde e como tal devem ser tratados”, diz Duarte.A orientação, entretanto, nem sempre é colocada em prática. Depois de ter parado de beber, VA conta que levou um amigo alcoolizado a um hospital público em Brasília. “Ele sofreu preconceito e foi encaminhado para a ala psiquiátrica. O hospital disse que não tinha estrutura para atender um alcoólatra”, relata.WG, que também não quer ter o nome divulgado, faz tratamento no AA. Ao procurar um hospital para internar um amigo que estava “bêbado e drogado”, sua amiga diz que ele não foi atendido, pois o hospital informou que não tratava esse tipo de caso.Cordeiro explica que as pessoas podem receber orientações sobre tratamento no Disque Saúde (0800 61-1997). Entre as gravações oferecidas pelo serviço, no entanto, não há nenhuma sobre álcool ou sobre drogas. Segundo a atendente do serviço, o SUS “não pode obrigar nenhum hospital a fazer esse tipo de atendimento” e somente o governo local poderia informar quais hospitais têm esse tipo de atendimento.