Cristina Indio do Brasil
Repórter da Agência Brasil
Rio - O aumento da renda e do consumo não é suficiente para assegurar a elevação do número de pessoas na classe média brasileira, explica a diretora regional da Associação Brasileira das Organizações Não Governamentais (Abong) e da Federação de Órgãos para a Assistência Social e Educacional (Fase), Tatiana Dahmer.Em entrevista ao Programa Notícias da Manhã, da Rádio Nacional, ela avaliou que a pesquisa elaborada pelo Instituto Target, que aponta a inclusão de mais 2 milhões de pessoas nesta faixa social com a melhoria dos indicadores de renda e emprego desde 2002, precisa ser analisada em vários aspectos. De acordo com o estudo, cerca de 60% das famílias ganhariam entre R$1140 e R$ 3750. “Avaliar apenas que houve um aumento da classe média a partir da lógica do aumento do consumo é complicado, porque não assegura que estas pessoas tenham ascendido dentro de alguma mobilidade social e passem a viver os acesso a serviços e direitos de forma mais ampla. Então é preciso ter um pouco mais de cuidado”, analisou.Para a diretora, o investimento em formação superior que vem se ampliando ao longo dos anos pode ser indicador de inserção na camada média, mas também neste caso é necessário verificar a qualidade da formação. “Tem pessoas que acabam se formando, porque o mercado hoje exige cada vez mais, mas é preciso ver em que perfil de nível superior estas pessoas se inserem. Muitas acabam pagando um curso caro na rede privada, não concluindo este curso e tendo um diploma nem tão qualificado quanto o das universidades públicas. É sempre muito importante olhar os indicadores dentro de um contexto e não apenas o que eles anunciam”, defendeu.Na avaliação da assistente social, há uma tendência no país para a redução das desigualdades. Tatiana Dahmer alerta, no entanto, que por haver no Brasil um processo histórico de aprofundamento das diferenças de classes, o governo tem muito trabalho pela frente. “Essa desigualdade deixa marcas muito profundas na nossa cultura. O governo ainda tem desafios enormes, como investir na universalização de políticas sociais e de caráter redistributivo que garantam, por exemplo, serviços e acessos a diretos de forma universal, principalmente, para aqueles que estão no pólo mais vulnerável. È o que pode a médio e longo prazo reverter o quadro de desigualdade”, disse.Segundo a diretora, somente a elevação da renda não consegue manter as pessoas na classe média, porque é preciso ver a capacidade delas se empregarem. Ela destacou que a evasão e a repetência escolar ainda são problemas sérios no Brasil, apesar de haver atualmente uma tendência muito forte da universalização do ensino fundamental e das matrículas. “Existe ainda muito analfabetismo funcional. Embora, esteja cada vez diminuindo mais, a qualificação ainda é muito baixa. Uma crise mais forte não vai conseguir fazer com que essas pessoas se mantenham nesse novo status na classe média e também é importante olhar o grau de endividamento que muita gente tem assumido”, concluiu.