Amanhã começa a “hora da verdade”, diz secretário-geral da OMC

29/06/2006 - 23h34

Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A Suíça começa amanhã (30) a abrigar pela primeira vez uma reunião ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC). O objetivo é concluir o esboço das negociações sobre comércio agrícola e de produtos industriais. Amanhã é a "hora da verdade", define o francês Pascal Lamy, secretário-geral da organização. "Eu não creio que possamos postergar esse acordo ainda mais", disse em seu discurso, transcrito na página oficial da OMC. No final deste ano, termina a permissão do Congresso Nacional dos Estados Unidos para que o presidente George W. Bush negocie acordos comerciais com o resto do mundo.Os encontros de ministros de Relações Exteriores dos 149 países que compõem a OMC acontecem de dois em dois anos. Em 1999, a reunião ocorreu em Seattle; em 2001, Doha; em 2003, Cancún e, ano ano passado, Hong Kong. Não estava programada outra reunião ministerial já que o calendário da Rodada Doha - série de negociações que começou na reunião de 2001 - deveria ter sido concluído em Hong Kong.O ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, chegou hoje à cidade e demonstrou não estar otimista com relação à atual rodada de negociações. "Minha impressão geral é de que não estamos muito perto do resultado que necessitados", afirmou em coletiva à imprensa, nesta quinta-feira. "Se olho para trás, dois ou três meses atrás, tenho a impressão de que as diferenças aumentaram ou, pelo menos, tornaram-se mais fortes. Assim, teremos uma tarefa muito dura nos próximos dias", complementou.A reunião de ministros e chefes de estado, iniciada ontem, segue até o dia 3 de julho com a missão de fechar os acordos modelo, chamados de "modalidades", em agricultura e bens industriais. Pelo calendário acertado na cúpula ministerial de Hong Kong, em dezembro, estes documentos deveriamter sido concluídos em abril. Os textos para discussões foram distribuídos na última semana."Os elementos para um acordo ainda não estão lá - não os vejo. E, a menos que algo muito positivo, mas também inesperado, aconteça nestes dois ou três dias, tenho poucas expectativas de algum resultado concreto nestes dias", afirmou o chanceler.Segundo Amorim, há um sentimento de decepção em relação ao que os países desenvolvidos já fizeram ou indicaram que farão na rodada, lançada em 2001 com o objetivo de ser a rodada do desenvolvimento. "Há uma espécie de tentativa de reversão na responsabilidade pela liderança nas negociações, como se as ofertas dos em desenvolvimento pudessem encorajar os países desenvolvidos a fazer o que precisam fazer para o sucesso da rodada", revelou.O chanceler destacou que obviamente todos têm que fazer a sua parte nas negociações e fazer concessões, mas que este esforço deve obedecer a critérios de proporcionalidade. "Isto deve, em primeiro lugar, ser proporcional ao nosso poder. Em segundo lugar, à capacidade que temos de mudar a economia mundial porque, desde o início, tem sido a rodada do desenvolvimento e da agricultura", destacou.Amorim também mandou um recado às nações mais ricas do planeta: as vezes, a melhor forma de combater terrorismo, proliferação de armas, etc.. é combater a pobreza. E o caminho mais imediato para combater a pobreza é com melhores acordos em termos de liberação do comércio."Até agora, a agenda do ministro incluiu encontros com a representante de comércio dos Estados Unidos, Susan Schwab, o comissário europeu de comércio, Peter Mandelson, e participou de reunião do G-20 - grupo de países em desenvolvimento liderado pelo Brasil e pela Índia.