Senador critica manifesto contário à política de cotas para negros e índios

29/06/2006 - 18h08

Iolando Lourenço e Marcos Chagas
Repórteres da Agência Brasil

Brasília - O senador Paulo Paim (PT-RS), autor do projeto que criou o Estatuto da Igualdade Racial, criticou os signatários da Carta Pública ao Congresso Nacional. O documento foi entregue, hoje (29) aos presidentes da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Segundo Paim, sempre que projetos como o estatuto e a política de cotas para negros e indígenas estão prontos para serem votados, "setores conservadores se mobilizam e usam alguns laranjas para inviabilizá-los".

O senador ressaltou que o estatuto foi discutido por dez anos pela sociedade e aprovado por unanimidade pelo Senado. A matéria está na Câmara dos Deputados à espera de votação.

"Estas pessoas querem que tudo continue como está. Os negros morando nas favelas", afirmou, a respeito dos autores do manifesto. Ao todo, 114 pessoas assinam a carta, entre artistas, acadêmicos, cientistas políticos, dirigentes sindicais e de movimentos negros.

Paim acrescentou que as duas propostas (o estatuto e a política de cotas) têm por objetivo criar uma política de inclusão dos negros na sociedade. "Queremos permitir que haja a inclusão dos negros no primeiro escalão do Executivo, Legislativo e Judiciário".

O presidente do Movimento Negro Socialista, José Carlos Miranda, reagiu às declarações, argumentando que, assim como Paim, ele é negro, veio de uma família pobre e começou sua militância como metalúrgico da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

"Por respeito e apreço ao senador não vou dizer que o projeto dele (Estatuto da Igualdade Racial) é uma manipulação de seus próprios pensamentos", afirmou.

O presidente do Senado disse aos representantes do movimento contrário a política de cotas que "este é o momento para demonstrar que o Congresso Nacional tem que ser a caixa de ressonância da sociedade".

Quanto ao estabelecimento de cotas, Renan afirmou que a avaliação caberá ao Congresso Nacional. "Temos que encontrar maneiras para remover qualquer tipo de desagregação, tudo isso se faz com muito diálogo".

Para Aldo, preconceitos de raciais, sociais e culturais estão presentes na sociedade. "Estes preconceitos marcam o abismo que separa a população", disse o deputado, acrescentando que condena ações que possam fragmentar ainda mais a sociedade. "Precisamos encontrar formas próprias para acabar com as discriminações".