Padrão japonês de TV digital prejudica tecnologia brasileira, diz pesquisador

29/06/2006 - 13h37

Cecília Jorge*
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A decisão do governo federal de escolher o padrão japonês de televisão digital prejudicará o desenvolvimento tecnológico e científico do Brasil, avalia o coordenador geral do Instituto de Estudos e Projetos em Comunicação e Cultura (Indecs), Gustavo Gindre. "São empregos qualificados que a gente perde", diz. "Na verdade, vamos gerar emprego em Tóquio e não no Brasil, porque vamos ser apenas consumidores de tecnologia importada e não produtores de tecnologia".O decreto presidencial que estabelece as regras para a implantação do Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD), cuja cerimônia de assinatura ocorre neste momento no Palácio do Planalto, prevê o uso das inovações tecnológicas nacionais. A pesquisadora da Faculdade de Engenharia Elétrica da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) Cristina de Castro avalia que as pesquisas financiadas pelo governo no ano passado sobre TV digital estimularam a produção científica nacional nessa área.Agora, para a pesquisadora, com a escolha do sistema japonês, será preciso um trabalho para garantir a incorporação das inovações tecnológicas brasileiras. "Conhecemos a complexidade do sistema e sabemos o que é propor alguma sugestão para um sistema já reconhecido. Não vai ser um trabalho fácil, mas estamos prontos para trabalhar nesse contexto".Cristina de Castro defende que, do ponto de vista técnico, o governo deveria ter optado por desenvolver um modelo nacional de TV digital. "O nosso sistema foi desenvolvido para atender aqueles requisitos que o próprio governo solicitou", disse. O decreto de criação do SBTVD estabelece que o sistema escolhido precisa, por exemplo, promover a inclusão digital, o desenvolvimento da tecnologia e ciência nacionais e a democratização da comunicação através da possibilidade da existência de novos canais.A pesquisadora reconhece, no entanto, que a decisão do governo não pode ser apenas técnica e que questões como a política industrial e comercial também precisam ser levadas em consideração. "Parece que o governo achou uma solução de meio-termo. Segundo a ótica do governo, [o sistema japonês] é melhor para o desenvolvimento do país no contexto industrial, talvez por agregar mais rápido as indústrias em torno de um sistema já existente, ao mesmo tempo em que garante a incorporação da tecnologia nacional".Já Gustavo Gindre, que também é integrante do Intervozes (Coletivo Brasil de Comunicação Social), diz que o estímulo à indústria nacional seria maior com um padrão brasileiro. "Adotando tecnologia brasileira iríamos ter condições de nos inserirmos melhor na globalização, porque quem se insere melhor é quem tem algo pra vender - e teríamos tecnologia para vender", argumenta.*Colaborou Ivan Richard, da Agência Brasil.