Modelo japonês de TV digital é completamente diferente do ambiente brasileiro, critica pesquisador

29/06/2006 - 15h16

Cecília Jorge*
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O coordenador geral do Instituto de Estudos e Projetos em Comunicação e Cultura (Indecs), Gustavo Gindre, diz que um dos problemas da escolha do padrão de TV digital japonês é que a tecnologia não foi desenvolvida para atender às necessidades da sociedade brasileira. "Cada tecnologia responde às demandas de quem as constrói", avalia. "O modelo de implantação de TV digital no Japão não tem nada haver com a realidade brasileira". Gindre , que também é integrante do Intervozes (Coletivo Brasil de Comunicação Social), ressalta que uma das diferenças é quanto à necessidade de promover a inclusão digital com essa nova tecnologia. "A população japonesa, se quiser, tem em sua casa banda larga velocíssima, computadores extremamente modernos e não precisa usar a televisão para acessar a internet", disse. Já no Brasil, segundo ele, apenas 6% da população tem acesso à internet de banda larga. Para atender ao mercado japonês, o modelo de TV digital desenvolvido lá, na avaliação de Gindre, dá prioridade para a qualidade da imagem. A transmissão em alta definição ocupa todo o espaço de radiodifusão, dificultando a ampliação de canais e serviços. "Fazer uma TV que tenha serviços de inclusão digital, que leve ao cidadão brasileiro uma série de serviços que hoje só estão disponíveis a quem tem acesso à internet e que são serviços vitais para o exercício da cidadania é prioridade em relação à TV de alta definição", defende. De acordo com o pesquisador, a opção por um modelo desenvolvido no Brasil não teria significado o descarte da possibilidade da transmissão em alta definição. O coordenador-geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Celso Schröder, acrescenta que a criação de um padrão nacional teria sido a garantia de um maior número de canais. "O cidadão perde a chance de ter todas as outras possibilidades que a tecnologia traz, que era de garantir, por exemplo, uma interatividade em uma dimensão maior e isso certamente seria extremamente importante para as televisões públicas, educativas", ressaltou. *Colaboraram Ivan Richard, Adriana Franzin e Cássia Relva, da Agência Brasil.