Defensor da democratização das comunicações diz que padrão japonês manterá concentração da mídia

29/06/2006 - 15h05

Cristina Índio do Brasil
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A escolha do padrão japonês para a implantação do sistema de televisão digital no Brasil tem sido alvo de críticas entre ativistas da democratização das comunicações. O Secretário executivo do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), James Görgen diz que o modelo não irá permitir a inclusão digital de todas as faixas da população. Em entrevista à Rádio Nacional, Görgen diz que a escolha feita pelo governo será prejudicial ao país. Abaixo, os principais trechos da entrevista. Agência Brasil - As emissoras de TV defendem o modelo japonês dizendo que manterá a televisão brasileira com produção de primeiro mundo, e que há possibilidade de abertura de novos canais. O Fórum entende que este é o melhor caminho ou um outro modelo poderia ser mais democratizante? James Görgen - O Fórum entende que o cumprimento do decreto presidencial, que criou o sistema brasileiro de televisão digital, seria o melhor caminho. Traria a participação da sociedade no momento da decisão e não criaria essa decisão arbitrária que o governo está tomando. O governo simplesmente optou por manter o status quo da radiodifusão, manter sob a mão dos mesmos donos que concentram a mídia no Brasil, esse poder de decisão da digitalização que permitiria vários avanços democráticos na área das Comunicações. ABr - Há uma programação do Ministério das Comunicações falando em 60 dias para estabelecer um cronograma de implantação. É possível influenciar, ainda, para uma maior democratização do setor de comunicação, principalmente, da televisão? James Görgen - Sempre é possível quando há vontade. Se a racionalidade voltar para a discussão, se nesse fórum que for criado para a transição for permitido que a sociedade participe e não for mantido um diálogo restrito entre radiodifusores e governo, seria possível conseguir alguns avanços. Mas mínimos, uma vez que este padrão nos isola do mundo, nos coloca numa conversa bilateral com o Japão.Também nos isola economicamente, uma vez que é o mais caro de todos. Hoje são 46 milhões de domicílios com televisão. Todos vão ter que comprar aparelhos para fazer a transição do sistema analógico para o digital. Tudo isso por uma simples canetada do presidente. ABr - Mas o Ministério das Comunicações diz que o decodificador para a transição do analógico para o digital custaria no máximo R$ 100. James Görgen - Mais uma vez o governo vai ter que abrir mão de sua arrecadação tributária e fiscal para que isso possa acontecer. Em nenhum lugar do mundo, a não ser na China, se consegue um valor tão baixo. Por enquanto, a tecnologia permitiria um valor assim se houver subsídio. Havia a esperança de que com a tv digital a população pudesse mais do que receber a qualidade da programação atual - e isso é discutível, porque não dá para se falar que o Brasil tem uma grande qualidade de programação, a não ser que seja apenas visual. O governo está abrindo mão disso ao não permitir a inclusão digital, porque não existe inclusão digital no Japão pela televisão, eles não querem isso. O modelo deles é outro, eles já estão incluídos digitalmente via outras tecnologias. ABr - O Ministério das Comunicações diz que o padrão japonês será adotado com inovações tecnológicas e com iniciativas de pesquisadores brasileiros, o que seria um padrão nipo-brasileiro. O Fórum não acredita neste ponto? James Görgen - O Fórum espera que isso seja feito e não vê nenhuma evidência para isso, na medida em que o Japão já disse que essas incorporações não serão feitas em médio prazo. É uma coisa para mais tarde e não necessariamente as melhores inovações desenvolvidas no Brasil serão as adotadas. Existia já um jogo de cartas marcadas há muito tempo, algumas dessas universidades vem recebendo mais recursos e mais apoio do governo que outras, que desenvolveram soluções que precisariam de mais investimento por um pouquinho mais de tempo para que pudessem ter uma solução melhor. Existem pelo menos duas ou três soluções que trariam para o Brasil um padrão mais brasileiro e tropicalizado do que este que vai ser implantado. Se for feito assim, é simplesmente a importação de um padrão.