Renúncia de primeiro-ministro contribui para estabilização no Timor, diz professor

27/06/2006 - 19h16

Érica Santana
Repórter da Agência Brasil

Brasília - A renúncia do primeiro-ministro do Timor Leste, Mari Alkatiri, anunciada ontem (26), pode contribuir para a estabilização política do país. A afirmação é do professor de Relações Internacionais da Faculdade Integrada Rio Branco Alexandre Uehara.

Doutor em Ciências Políticas, Alexandre Uehara disse também que a saída de Alkatiri do governo timorense fortalece o presidente Xanana Gusmão. "Nessa disputa de poder, na queda de braço entre esses dois políticos importantes, podemos afirmar que Xanana Gusmão obteve a vitória, principalmente porque a opinião pública pesou muito favoravelmente a seu favor", afirmou Uheara, em entrevista à Radiobrás.

O ex-primeiro-ministro Mari Alkatiri estava sendo apontado pela população como um dos principais responsáveis pela onda de violência que atingiu a capital, Dili, no final do mês passado e, por isso, vinha enfrentando resistências e um alto índice de impopularidade. Já Gusmão sempre contou com apoio do povo de Timor, que o elegeu com mais de 80% dos votos.

Uehara destacou a relevância do aspecto religioso nas divergências entre Alkatiri e Gusmão. Localizado na Indonésia, maior país mulçumano do mundo, com cerca de 200 milhões de pessoas, o Timor Leste, com uma população de 820 mil pessoas é um país católico. "Isso já causa uma tensão muito forte e, dentro do governo, o que nós tínhamos era o Xanana Gusmão sendo católico e o Alkatiri, islâmico. Isso não significa que a religião explica tudo, mas é, no caso do Timor Leste, um fator importante", disse.

De acordo com o professor Uheara, o Prêmio Nobel da Paz de 1996, o timorense José Ramos Horta, que renunciou ao cargo de ministro de Assuntos Exteriores e de Defesa no domingo (25), é o nome mais cotado para assumir a vaga de primeiro-ministro. "Ele é uma pessoa mais alinhada com o Xanana Gusmão e isso colocaria o governo em mais harmonia".

Para o doutor em Ciências Políticas, a renúncia do primeiro-ministro mostra que o país, que se tornou independente em 2002, ainda tem muitas fragilidades. "O reconhecimento internacional mostrou que existe necessidade de um apoio internacional importante, assim como tem sido a presença de tropas da Austrália e da Nova Zelândia, para que se possa manter uma certa estabilidade no país, e esse apoio é muito importante nesse momento para o Timor Leste".