Fiocruz prevê atraso em pesquisas se uso de animais for proibido

27/06/2006 - 17h53

Adriana Brendler
Repórter da Agência Brasil

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) aponta uma série de problemas no andamento de pesquisas caso o uso de animais em experimentos científicos seja proibido, como prevê projeto de lei do vereador Cláudio Cavalcanti, do Rio. De acordo com um dirigente da fundação, o projeto deixa a desejar por falta de detalhamento e, se aprovado, trará prejuízo até para os próprios animais.

Carlos Alberto Muller, coordenador do centro de experimentação do Instituto Oswaldo Cruz, que integra a Fiocruz, considera o projeto de lei generalista, por não especificar a que animais se refere. O texto, da forma como foi redigido, impediria experimentos até com insetos, avalia Muller. "A lei inviabilizaria inclusive as pesquisas em benefício dos próprios animais".

O coordenador traça um panorama pessimista. "As pesquisas do câncer param, as pesquisas de desenvolvimento de vacinas e controle de qualidade de medicamentos param, as faculdades de veterinária vão ter problemas seriíssimos". E prevê que o Rio de Janeiro, "maior centro de pesquisas do Brasil", pode perder a Fiocruz se o projeto for aprovado. "Ou (a fundação) vai parar ou vai se mudar do Rio".

Müller explica que os animais são fundamentais não só para desenvolver novas pesquisas, como também para fazer controle de qualidade de vacinas e medicamentos. "Você só pode colocar uma vacina na rua se ela passar no controle de qualidade. Se ela não passar no animal, não vai passar no homem".

Segundo o coordenador, um grupo de pesquisadores da Fiocruz está desenvolvendo nove métodos alternativos, mas ainda assim os animais serão necessários para validá-los. Ele argumenta que mesmo na Europa, onde há grande preocupação com o assunto, ainda não foi possível abrir mão deles. Um documento que estipulava o ano de 2000 como prazo para substituir os testes com animais por métodos alternativos foi recentemente revisto e a meta, adiada para 2015.

Muller ressalta que o bem-estar dos animais é prioridade da Fiocruz, que sempre utiliza anestésicos. "Nunca poderemos dizer que não há sofrimento, mas há uma preocupação em minimizá-lo".

Afirma ainda que todos os projetos passam por uma comissão de ética que avalia a relevância científica das propostas, a necessidade de utilização dos animais e todas as condições em que será realizado o experimento. Segundo ele, o número de animais utilizados foi reduzido em 60% desde a criação da comissão, em 1999.

Em relação à denúncia de ambientalistas de que os animais estariam sendo utilizados por serem mais baratos do que outros métodos, o coordenador garante não haver motivações econômicas. De acordo com ele, a literatura especializada indica que os sistemas alternativos são em média 60% mais baratos.