Dados sobre Bacia do São Francisco são considerados insuficientes por pesquisadores

25/06/2006 - 15h22

Isabela Vieira
Da Agência Brasil

Brasília – A máxima "Só se preserva o que se conhece", difundida nas discussões ambientais, permeia os trabalhos para o mapeamento da biodiversidade na Bacia do São Francisco, coordenados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Em entrevista à Agência Brasil, dois participantes do estudo destacaram o baixo nível de conhecimento sobre a distribuição dos bichos e plantas da bacia e sua situação.O professor de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP) Luís Silveira, especialista em aves, afirma que grande parte da região ainda não foi estudada.

Segundo ele, a indicação de áreas para conservação das espécies de aves que vivem somente ali e das que estão em risco de extinção foi feita com base em estudos anteriores e, não, em pesquisa in loco.

"Por puro desconhecimento podemos estar negligenciando regiões muito importantes para conservação da biodiversidade", diz Silveira. "Nós sugerimos áreas e pretendemos fazer, a partir do momento em que tivermos recursos, um levantamento em campo. É preciso checar essas áreas."

No caso da fauna de peixes, o quadro é parecido, segundo o professor de zoologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Alexandre Godinho. Praticamente apenas sobre o estado de Minas Gerais haveria dados suficientes. "A sugestão de alvos e metas de conservação pode ser prejudicada por falta de informações", comenta.

Godinho sugere, como forma de se minimizar esse problema a médio prazo, o investimento em capacitação de pessoal – "particularmente nas Universidades Federais do Nordeste, para facilitar a coleta e a busca das informações".

O estudo sobre a diversidade biológica, coordenado pelo Ibama, listou até aqui 249 espécies animais e 83 vegetais, além de localidades, como prioritárias para conservação. O levantamento será cruzado com novos dados e trabalho de campo, para resultar numa lista final com conclusão prevista para o final do ano.

Luís Silveira, da USP, lembra que a ararinha-azul, ave que vivia na região, foi extinta. Ele cita o pato-mergulhão e o jacu-de-barriga-castanha como animais em grande risco. De acordo com Silveira, a degradação do ambiente e a caça, para alimentação e tráfico, são fatores que perpetuam a delicada situação em que os bichos vivem. "Isso tudo acabou descaracterizando a fauna da Bacia do São Francisco", afirma.

Silveira diz que têm sido importantes as reuniões entre Ibama, Ministério do Meio Ambiente e especialistas da área, mas que, se a transposição do rio ocorrer sem um programa "sério e muito bem orientado, onde haja um compromisso assinado do governo federal com a conservação, nós teremos ameaças e até piora na situação de várias espécies de aves".

Para ele, ainda faltar estabelecer de onde virão os recursos para os estudos e definir como funcionará a estrutura de fiscalização: "É importante que se criem reservas, mas também é importante que se dêem condições para as manter. De nada adianta você ter um parque criado no papel onde entrem caçadores, pessoas para tirar madeira, pessoas que estão descaracterizando o hábitat dos animais."

*Colaborou Cecília Jorge.