Presidente do Timor Leste ameaça pedir demissão amanhã

22/06/2006 - 14h33

Agência Lusa

Díli (Timor Leste) – O presidente do Timor Leste, Xanana Gusmão, divulgou hoje (22) uma nota oficial em que manifesta a intenção de demitir-se até amanhã (23) caso o primeiro-ministro Mari Alkatiri não assuma a responsabilidade pela crise no país, deixando o cargo.

"Peço responsabilidades ao vosso camarada Mari Alkatiri pela crise que estamos a viver, relativamente à sobrevivência do Estado de direito democrático, ou amanhã [sexta-feira] eu vou mandar uma carta ao Parlamento Nacional, para informar que me demito de Presidente da República", disse Gusmão, na mensagem de 90 minutos.

"Tenho vergonha pelo que o Estado está a fazer ao povo e eu não tenho coragem para enfrentar o povo. (...) Peço à população para se acalmar porque neste momento de crise, todos nós temos que fazer uma boa reflexão para que não haja mais violência e destruição no nosso país."

O primeiro-ministro do Timor Leste, Mari Alkatiri, faz parte do principal partido do país, o Fretlin. O congresso realizado pela legenda esta semana para escolher novos dirigentes foi considerado ilegítimo por Xanana Gusmão.

O presidente do Timor acusa os líderes partidários de compra de votos, distribuição de armas e tentativa de golpe de Estado. Em resposta às acusações, o primeiro-ministro do país rejeitou a possibilidade de deixar o cargo.

Segundo Mari Alkatiri, perante uma situação "tão complexa", "uma decisão precipitada pode complicar ainda mais as coisas". "Não houve compra de votos de espécie alguma no congresso do partido", afirmou, em entrevista à Agência Lusa. "Lamento que o presidente tenha chegado a este ponto. É uma acusação extremamente séria."

Caso Xanana Gusmão peça demissão, por lei, quem assume a presidência é o presidente do parlamento timorense, Francisco Guterres "Lu-Olo". Hoje, o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, admitiu a possibilidade de reforçar a missão da ONU no país. Para Annan, houve má gestão e choque de personalidades no Timor.

A crise no Timor Leste começou em abril, com conflitos envolvendo militares e políticos. Mais de 30 pessoas já morreram nos embates e 145 mil tiveram de abandonar suas casas.

Cerca de 150 brasileiros moram no Timor Leste. A maior parte deles atua nos programas de cooperação em áreas como cultura, saúde e educação.