País vive paradoxo em seu desenvolvimento, aponta pesquisador da FGV

07/06/2006 - 20h29

Nielmar Oliveira
Repórter da Agência Brasil

Rio – O Brasil vive, há alguns anos, um paradoxo em seu desenvolvimento. Essa é a avaliação do professor Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, que divulga amanhã (08) pesquisa sobre a desigualdade social brasileira com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad – IBGE). O estudo aponta que, em 2004, a desigualdade atingiu o menor nível desde o censo de 1960 e que a renda dos pobres chegou a crescer 14,1%.

O levantamento também aponta que, no período de 2001 a 2004, a renda total do brasileiro caiu 1,35% ao ano, enquanto entre as classes menos favorecidas a renda cresceu 3,07%. "O grosso do bolo cai, mas o bolo dos pobres cresce", explica Neri. "Sem dúvida está havendo uma maior distribuição de renda no país e a distância entre estas duas curvas mostra isto de forma muito clara".

Na avaliação do pesquisador da FGV, é justamente esse o paradoxo brasileiro. "É como se os pobres vivessem na China, país com elevadas taxas de crescimento econômico, e o resto dos brasileiros continuasse morando em um país cuja economia se encontra estagnada - e a renda em queda".

O economista da Fundação Getúlio Vargas atribui o crescimento verificado entre as classes mais pobres da população às políticas sociais desenvolvidas pelo governo. "Há uma contribuição significativa da Previdência Social nesse processo, mas o principal destaque decorre da contribuição de programas de distribuição de renda, como o Bolsa família", avalia Neri.

O pesquisador diz acreditar que, se a década de 90 ficou marcada pela erradicação dos índices crônicos de inflação e pela conquista da universalização do ensino fundamental, a década atual é a da redução da desigualdade. "No Brasil - um país onde a desigualdade de renda quase não mudou ao longo dos últimos 30 anos – nós estamos convivendo desde o começo desta década com uma gradativa redução das desigualdades - mesmo com o bolo caindo", explicou.