Acesso à terra deve unir agricultores negros jovens e adultos

22/03/2006 - 13h43

Irene Lôbo
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Mesclar a experiência dos agricultores familiares com vivência no campo e estimular e incentivar grupos de jovens agricultores de raça negra a seguirem a mesma profissão dos mais velhos. Esses são os objetivos da linha de crédito Terra Negra Brasil. O governo federal entregou hoje (22) o primeiro título de imóvel rural adquirido com o programa.

O primeiro grupo a se beneficiar com o crédito é formado por 26 jovens negros da comunidade de Damásio, município de Guimarães, no noroeste do estado do Maranhão.

"Quando a gente analisa o conjunto de jovens que de fato foram beneficiados ao longo da história com políticas de acesso a terra, a gente percebe que a tendência é o estado priorizar aquelas famílias, homens e mulheres que já tem filhos, e o jovem acaba ficando no fim da fila", analisa o secretário de reordenamento agrário do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Eugênio Peixoto.

Para o jovem Daniel Martins, de 18 anos, adquirir a própria terra junto com outros jovens iguais vai permitir que o trabalho do grupo beneficie a própria comunidade. Antes, o normal era migrar para grande cidade em busca de emprego.

"A gente vê que a situação de vida do brasileiro, principalmente no Maranhão, está péssima. Então para, evitar a migração das pessoas que moram em comunidades para a cidade grande a gente resolveu fazer esse projeto não para intimar as pessoas a saírem de suas comunidades, mas para voltarem para as comunidades, para ficar aqui", afirma Martins.

O jovem agricultor e seus amigos já começaram a plantar mandioca e arroz na fazenda Dois Irmãos, comprada no final do ano passado com o crédito Terra Negra Brasil. As primeiras colheitas, segundo Daniel, vão ser vendidas na própria comunidade e nos vilarejos vizinhos. Antes, as famílias dos jovens sobreviviam com apenas um salário mínimo por mês.

O Crédito Fundiário, programa desenvolvido pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário em parceria com os governos estaduais e o Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, oferece três linhas de crédito específicas: Combate à Pobreza Rural (CPR), para os agricultores familiares mais pobres; Nossa Primeira Terra (NPT), para jovens de 18 a 28 anos; e Consolidação da Agricultura Familiar (CAF), destinada a agricultores familiares.