Cientista política diz que importante é entender dinâmica das pesquisas eleitorais

20/03/2006 - 13h56

Jansem Campos
Repórter da Agência Brasil

Rio - Mesmo confiáveis, as pesquisas eleitorais devem ser interpretadas levando em consideração aspectos que muitas vezes passam despercebidas. A advertência foi feita hoje pela pesquisadora do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), Alessandra Aldé, em entrevista ao programa Notícias da Manhã, da Rádio Nacional.

"Nós podemos ter um nível de confiança muito alto nos principais institutos de pesquisa do Brasil. Hoje em dia, eles atuam com critérios estatísticos bem rigorosos, seguem procedimentos cuidadosos, até porque têm um nome em jogo. A questão, portanto, não é como as estatísticas são realizadas, mas entender sua dinâmica", explicou.

Para a cientista política, no entanto, mesmo que os números sejam corretos e confiáveis, a maneira de divulgá-los pode influenciar o eleitor. Ela afirmou que é importante, por exemplo, saber quem encomendou a pesquisa.

Segundo Alessandra, o cliente do instituto de pesquisa é o único que tem acesso a todos os dados. De posse desses dados, ele vai definir se interessa sua divulgação. Nem sempre, esclarece a especialista, o cliente vai repassar toda a pesquisa à imprensa.

A pesquisadora destacou que, da mesma forma como há o ponto de vista do político
candidato, que tem interesse em demonstrar seu desempenho, o jornalista também tem interesse em criar uma manchete "dramática". "Muitas vezes vemos uma manchete dizendo que 'fulano despencou das pesquisas', sendo que ele caiu três pontos, o que está na margem de erro", exemplifica.

Na opinião da especialista, é sempre interessante saber de onde vem a pesquisa. Muitas vezes são confederações empresariais (indústria, transporte), que, por mais que queiram mostrar um cenário realista, também têm interesses, muitas vezes de partidos e candidatos.

A pesquisa é um elemento para o cálculo do voto no sentido da viabilidade, explica Alessandra. "O que é incoerente é que, no Brasil, muitas vezes o eleitor fica de olho na pesquisa para saber ser o candidato dele é viável, se tem chances de ir para o segundo turno", afirmou.

Segundo ela, a divulgação tão intensiva das pesquisas faz com que o eleitor fique muito preocupado com a "corrida de cavalos", ou seja, com quem está na frente. "Mas o sistema eleitoral prevê um segundo turno justamente para que o cidadão não precise pensar na questão da viabilidade. Ou seja, que ele possa votar de acordo com suas convicções, suas preferências concretas".

Alessandra destaca ainda que a ênfase nas pesquisas revela uma característica da cobertura jornalística que prioriza o Executivo. "Ou seja, todo mundo fica interessado na eleição para presidente e governador. E os legisladores, que são o coração do sistema representativo e que têm sido protagonistas da crise política, têm sido pouco focalizados pelo interesse
da mídia e do eleitor. Não se faz pesquisa para deputado. A eleição para o Legislativo acaba sendo feita de última hora, sem muita reflexão".