Taxas de juros têm adiado crescimento do país, avaliam economistas na Câmara

16/03/2006 - 20h56

Lana Cristina
Repórter da Agência Brasil

Brasília – As taxas de juros praticadas no país são responsáveis por retardar o crescimento. Essa foi a principal conclusão dos economistas que participaram do seminário promovido pela Câmara dos Deputados "Caminhos do Crescimento". Para o economista e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), Roberto Macedo, a questão dos juros é central e a mais importante a ser resolvida na economia brasileira – ou todos os outros fatores que influenciam no crescimento do país ficarão prejudicados.

Para Macedo, o governo tem que estabelecer uma política econômica integrada, baseada em políticas de crédito, de renda, fiscal e também no estímulo ao investimento. "O que gera o crescimento é o investimento. Tem que criar capacidade para o setor produtivo crescer. Se não tiver investimento não vamos mais crescer", avaliou. O aumento da produtividade, lembrou o economista, pode aumentar a pressão sobre o preço. "Se eu tenho mais produtividade, tenho mais produto no mercado, inclusive com tecnologia melhor, e isso pode baixar o preço."

Macedo criticou a política de aumento de oferta de crédito, baseada no crédito consignado. "Com juros altos, isso não funciona. Só prejudica quem toma o empréstimo, porque aumenta sua capacidade de endividamento", enfatizou. Juros mais baixos e câmbio mais alto, na opinião do economista, fariam a economia crescer. Além disso, ele recomendou mais controle na dívida. "Tem que haver equilíbrio nos gastos. Defendo mesmo uma visão holística para a política econômica, que significa uma visão mais ampla, multifacetada. Não essa visão reducionista que coloca nas mãos do Banco Central, única e exclusivamente, o destino da política monetária, via taxa básica de juros para combater a inflação e definir o andamento da economia", concluiu.

O jornalista especializado em economia, Luís Nassif, concordou com a tese de Macedo, baseada na "visão holística" e disse que o Brasil teve três "grandes janelas de oportunidade" de crescimento. "A primeira foi logo após a Proclamação da República, quando houve um movimento imigratório grande por causa da libertação dos escravos e a necessidade de mais mão-de-obra. O segundo momento foi na metade dos anos 60, quando o país viveu intenso nível de industrialização, uma avalanche de retirantes vindos do Nordeste para o Sul e Sudeste com a seca. E o terceiro e melhor momento, acredito, foi o Plano Real, que trouxe todo um universo de consumidores que não podiam consumir antes, e que passaram a consumir, mas ficaram devendo e foram penalizados com o erro do PSDB em permitir o aumento dos juros", registrou.

Presente no encerramento do seminário hoje (16), o presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo (PC do B/SP), disse que o debate foi produtivo para avaliar, entre outros fatores, se a redução da taxa de juros pode abrir espaço para o crescimento da economia brasileira. "Os juros, o câmbio, o investimento público e o privado são todos temas que integram a polêmica em torno das opções do Brasil e dos obstáculos ao crescimento economia. Acho que houve aqui quase um consenso de que as taxas de juros praticadas no Brasil são muito elevadas para que o país retome o crescimento com maior vigor", concluiu.