Violência contra a mulher não está restrita a regiões pobres, diz especialista

08/03/2006 - 8h49

Cristina Índio do Brasil
Repórter da Agência Brasil

Rio - A violência contra a mulher ocorre em todas as faixas etárias e classes sociais. Poucas revelam espontaneamente as agressões que sofreram. Em geral, precisam ser estimuladas a denunciar o crime. Esse perfil foi comprovando pela pesquisa "A Mulher Brasileira nos Espaços Público e Privado", elaborada pela Fundação Perseu Abramo em 2001.

"Anteriormente, se pensava que a violência estava restrita a regiões pobres e em pessoas com baixa escolaridade", disse a coordenadora Centro Integrado de Atendimento à Mulher do Rio de Janeiro, Cecília Soares, que participou hoje (7) de entrevista ao programa Redação Nacional , da Rádio Nacional .

Segundo ela, é significativa a diferença entre o percentual de mulheres que informam espontaneamente ter sofrido violência (19%) das que só revelam quando são estimuladas pela citação de algum tipo de agressão (43%).

Para a especialista, as mulheres demoram a reconhecer que são vítimas porque há a idéia de que violência está relacionada apenas às agressões físicas mais fortes, como espancamento, tiro ou facada. As agressões psicológicas não são entendidas como vioência.

Cecília Soares lembra que o estupro existe na legislação penal, praticado por parente, marido, conhecido ou por desconhecido. No entanto, a cultura brasileira não vê o marido como possível estuprador, com direito de exigir a relação à força.

"O estupro é crime dentro e fora do casamento. A polícia precisa lembrar disso e as próprias mulheres precisam lembrar disso também", alerta.

Cecília Soares disse que quando a mulher sofre violência e informa o que ocorreu ela passa por uma triagem para ver se é o caso de ser encaminhada a uma Casa Abrigo, serviço feito pelos Centros de Atendimento. "A Casa Abrigo é o último recurso, não é hotel de luxo. É um lugar que embora confortável é muito sofrido, porque são mulheres que estão escondidas. A gente tenta fazer de tudo para dar outra solução ao invés de botar essa mulher escondida por até quatro meses".

Segundo Cecília, essa não é a intenção, mas acaba sendo uma forma de proteger a mulher e seus filhos. "É o que as pessoas falam geralmente, o homem fica solto e a mulher presa", disse.

A coordenadora informou ainda que as organizações ligadas ao combate à violência contra a mulher estão promovendo hoje em todo o país manifestações a favor da aprovação da proposta de lei - em votação nesta semana - que pede a criação de um juizado especial para os crimes de violência contra a mulher. "Que as mulheres dêem apoio à aprovação da lei, que, principalmente, na vida pessoal não se deixem ser agredidas e violentadas e que procurem ajuda".

Hoje, às 17 e às 20 horas haverá uma vigília na escadaria da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, em solidariedade às mulheres de todo o país que têm sido vítimas de violência doméstica.