Spensy Pimentel
Enviado especial
Porto Alegre – O projeto brasileiro de biodiesel, que associa a produção desse combustível ao desenvolvimento da agricultura familiar, pode se tornar uma importante alternativa econômica para o Haiti, afirmou hoje Budry Bayard, representante oficial do país caribenho, durante sua apresentação na sessão plenária da 2ª Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural, promovida pelo Fundo das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação.
"Nós apoiamos a idéia brasileira do biodiesel. Consideramos que pode ser uma alternativa para resolver problemas econômicos e ambientais sem disputar espaço com a produção de alimentos", disse Bayard.
Segundo o coordenador do Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (Nead) do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Caio Galvão de França, a cooperação brasileira com o Haiti no desenvolvimento rural já estava sendo planejada para incluir projetos locais de biodiesel, e, até abril, uma equipe de técnicos já deve iniciar os primeiros trabalhos nesse sentido.
Para o assessor especial da Presidência da República, José Graziano, além de auxiliar no desenvolvimento das comunidades rurais, o biodiesel pode ajudar a resolver o problema da atual matriz energética do Haiti. As famílias utilizam basicamente a lenha para o consumo doméstico, e isso vem acabando com as reservas florestais do país, que é superpopuloso (8 milhões de pessoas em 27 mil km2 – área semelhante à de Alagoas).
"Em vez de acenar com coisas miraculosas, estamos indo com calma. O Haiti é o tipo de lugar onde não se pode errar", diz Graziano. Esta semana, ele deixa o cargo no Planalto para passar à chefia do escritório regional da FAO para América Latina e Caribe. Até o fim do ano, segundo ele, a FAO já quer ver implementado um projeto de parceria com o Brasil para cooperação técnica internacional na área do desenvolvimento rural. O Haiti deve ser um dos primeiros países beneficiados com o projeto.
Na tarde de hoje, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, fez uma palestra no evento da FAO em Porto Alegre sobre o projeto brasileiro de biodiesel. O chefe da assessoria internacional do MDA, Laudemir Muller, conta que já há outros países interessados no projeto: Marrocos, Paraguai, Estados Unidos, Venezuela e Angola, entre outros.
"Imagine o impacto de um projeto de desenvolvimento, baseado em bioenergia, em países pobres altamente dependentes da importação de petróleo, como há tantos", diz Muller. "O projeto brasileiro consegue resolver ao mesmo tempo o problema da energia, da geração de renda e trabalho e a questão ambiental. Não é apenas uma nova fonte de energia, é uma nova estratégia para o desenvolvimento."
Desde maio de 2004, o Brasil lidera no Haiti uma missão de Paz das Nações Unidas. Em fevereiro, o mandato da missão foi prorrogado por seis meses. A colaboração internacional em projetos de desenvolvimento é a principal reivindicação dos haitianos. Eles consideram que o país só conquistará estabilidade política quando tiver alternativas econômicas.