Luiz Fara Monteiro: Olá, você em todo o Brasil. Eu sou Luiz Fara Monteiro e estamos iniciando agora uma edição especial do Café com o Presidente. Presidente. O senhor mandou uma carta para o jogador Ronaldo, o fenômeno, e outra para o presidente da Fifa [Federação Internacional de Futebol], Joseph Blatter. Qual era o conteúdo dessas cartas?
Presidente Lula: Bom, são duas cartas totalmente diferentes. A primeira carta, que eu mandei para o nosso Ronaldo, o Fenômeno, é uma carta, eu diria, de incentivo, porque o Ronaldo representa muito, muito mesmo, para a juventude brasileira, representa muito para o futebol brasileiro e nós devemos a ele parte da imagem boa que o Brasil tem no mundo, porque ele é um menino bom caráter, é um menino ajuizado, é um menino que tem a cabeça no lugar. Um menino que ganhou três vezes o título de melhor jogador do mundo. E um dia desses, vendo o jogo do Real Madri, eu vi a torcida vaiar o Ronaldo. Ou seja, eu fiquei, como brasileiro, ofendido, porque acho que o Ronaldo, mesmo no dia em que não joga bem, merece um reconhecimento pelo que ele já fez pelo Real Madri, pelo Barcelona, pelos times da Holanda que ele já jogou, pelos times da Itália e sobretudo pelo que ele fez pelo Brasil. É importante lembrar que, em 2000, esse menino era praticamente tido como acabado para o futebol por causa daquela contusão no joelho. Ele se dedicou, não foram poucos os que escreveram que ele tinha acabado para o futebol. Esse menino se dedicou, trabalhou, se recuperou e foi o artilheiro da seleção brasileira na Copa do Mundo de 2002, naquela ocasião. Então eu mandei uma carta dizendo para o Ronaldo que nós confiamos nele e que depende só dele transformar 2006 no ano em que ele pode ser o artilheiro da seleção, que ele pode marcar os gols que nós precisamos para ganhar a Copa do Mundo. E que ele precisa estar bem com ele mesmo, porque o que não falta é gente no Brasil torcendo por ele. Eu, independentemente de ser brasileiro, sou um ser humano que tem sentimento, eu sei o que é passar por momentos adversos. Portanto, eu mandei essa carta exatamente nesse momento. Quando a pessoa está bem, quando a pessoa está no auge, ninguém precisa de apoio de ninguém, o apoio vem de graça. Quando as pessoas estão vivendo momentos adversos é que a gente tem que mostrar que é companheiro. E eu gosto do Ronaldinho. Acho que ele é um menino extraordinário, representa muito. E eu resolvi mandar essa carta quase que como se fosse um pai, dando conselho ao filho.
Luiz Fara Monteiro: Esse é o Café com o Presidente, programa de rádio do presidente Lula.
Presidente Lula: E a carta que eu mandei para a Fifa é diferente. É uma cobrança contra algumas coisas que eu estou vendo na televisão nos jogos europeus. Eu já vi fazerem contra o Roberto Carlos, na Espanha, já vi fazer com o Heitor, centro-avante do Barcelona. A torcida do time adversário do Barcelona fazer um gesto de macaco para ele. Então resolvi escrever uma carta para o presidente da Fifa. Ou seja, a Fifa tem que tomar medidas severas. Preconceito é uma coisa odiosa. O racismo é mais odioso ainda. Então a Fifa tem que tomar atitudes drásticas. Ou seja, primeiro tem que punir o clube. Ou seja, se a torcida de um clube fizer isso, esse clube tem que ser punido, ou ele perde um ponto, ou ele perde um mando de jogo, qualquer coisa. Se persistir no país, até a própria seleção tem que ser punida, não participar de eventos internacionais, porque o futebol significa paz, significa alegria. O futebol não pode ser um lugar em que a gente vá para mostrar as nossas maldades. A gente tem que ir lá para mostrar as nossas bondades, alegres, torcer, gritar, brincar e respeitar o atleta, que é o artista que está em campo jogando. Então mandei essa carta, também como torcedor de futebol. Não mandei como presidente da República, não. Eu não posso me separar, mas eu mandei como torcedor de futebol, como amante de futebol desde menino. É inadmissível a gente ligar a televisão para ver o jogo e ver uma cena dessa. A gente liga a televisão para ver a boa prática do esporte, para ver o espetáculo, para ver os artistas da bola fazerem o show. Agora, o torcedor que paga o seu ingresso, ele tem direito de vaiar, ele tem o direito de comemorar. Agora, o que ele não tem direito é de colocar os seus preconceitos para fora, seja num estádio de futebol, seja num teatro, seja na rua, seja na sua casa. O preconceito é uma doença e nós precisamos tratá-la com muito rigor pra que a gente estirpe, de uma vez por todas, o preconceito no mundo.
Luiz Fara Monteiro: Você ouviu a edição especial do programa Café com o Presidente, onde o presidente Lula explica o conteúdo das cartas enviadas ao presidente da Fifa, Joseph Blatter, e ao jogador Ronaldo, o Fenômeno. A gente volta segunda-feira com a edição normal do Café com o Presidente. Até lá.