Thaís Leitão
Repórter da Agência Brasil
Rio – Mais de 7 mil mulheres estão presas em todo o Brasil, segundo dados do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), do Ministério da Justiça. Em um dos maiores presídios do país, o Talavera Bruce, no complexo de Bangu, no Rio de Janeiro, estão encarceradas 340 delas. Trata-se de mulheres presas por tráfico de drogas, homicídio, assalto e até estupro. Segundo o diretor interino da penitenciária, Luiz André Azevedo, menos da metade das detentas recebe visitas de seus familiares. Hoje (8), Dia Internacional da Mulher, a data não foi comemorada por lá.
A dentista boliviana Lila Mirtha, presa há sete anos por lavagem de dinheiro e falsificação de documentos, diz que não recebe ninguém porque a família mora na Bolívia. Ela sonha em sair da prisão para reencontrar os dois filhos, mas prefere não fazer planos. "Eu só vou pensar no que vou fazer quando tiver a minha vitória nas mãos. É difícil prever o comportamento do ser humano, ele é movido pelas emoções. Só uma coisa eu posso dizer com certeza: o crime não compensa", afirma.
Segundo Julita Lemgruber, diretora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec), instituição ligada à Universidade Cândido Mendes, essa solidão é motivada pelo preconceito social.
"A sociedade não espera que a mulher infrinja as leis, mas que ela seja aquele ser calmo, pacato, cumpridor dos seus deveres. Quando ela quebra as leis, sofre duramente as dores da prisão. Além de infringir o ordenamento legal, ela também quebra as regras sociais. E aí, você tem um abandono enorme da mulher na prisão tanto por parte do marido, como dos filhos", explica.
Regina Farias, de 43 anos, ex-corretora de imóveis e mãe de duas meninas, é uma exceção dentro do Talavera. Ela conta que, semanalmente, um parente vai até lá para visitá-la. O mais difícil, de acordo com ela, é não poder acompanhar o desenvolvimento das meninas. "O coração de uma mãe é dilacerado dia após dia aqui dentro. No início era pior, porque você ainda está acostumada à rotina que ficou lá fora. Eu ficava imaginando se elas estavam indo para a escola, quem estava cuidando da comida delas, por exemplo. Depois você vai ficando anestesiado", disse ela, que foi presa porque facilitava os crimes cometidos por um homem por quem se apaixonou. "A gente é considerada bandida, marginal, mas o instinto materno fala mais alto do que qualquer coisa, até do que o crime", acrescenta.
A ex-vendedora Mila Araújo, de 47 anos, também foi presa porque se envolveu com um bandido. Ela foi detida em flagrante por seqüestro. "Eu fui traída e queria dar o troco. Me apaixonei por um homem, mas não sabia quem ele era. Quando eu descobri já era tarde demais", afirma. Ela está na cadeia há 15 anos, mas diz que seu maior desejo é sair para ficar perto da neta, de seis anos, que não sabe o que aconteceu com a avó. "Ela pensa que eu estou aqui a trabalho e não volto para casa porque o meu chefe não permite".