Cimi denuncia agressões da Jocum ao Ministério Público Federal há seis anos

08/03/2006 - 13h38

Thaís Brianezi
Repórter da Agência Brasil

Manaus – Desde 2000 o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) vem denunciando ao Ministério Público Federal (MPF) agressões culturais dos missionários da entidade evangélica Jovens Com Uma Missão (Jocum) ao povo Suruahá, que vive no sul do Amazonas.

"A gente já desconfiava há tempos dessa postura de conquista religiosa, mas ela só começou a se concretizar no final dos anos 90. Assistimos inclusive sessões de exorcismo para espantar o espírito do veneno [os Suruahá usam o veneno do Timbó para tentar o suicídio]", contou o coordenador regional do Cimi, Francisco Loebens, à Radiobrás.

"Nós exitamos em fazer essa denúncia, com medo que ela fosse interpretada como guerra religiosa, o que infelizmente aconteceu", lamentou Loebens. O coordenador estadual da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Francisco Ayres, declarou que pedirá hoje à tarde ao MPF a retirada dos missionários do Cimi e da Jocum da área, embora reconheça que apenas a postura da segunda entidade é nociva aos indígenas.

Ainda de acordo com o Cimi, que mantém de dois a três missionários na terra indígena suruahá desde 1980, a Jocum chegou lá em 1985, levada pela Fundação Nacional do Índio (Funai). Uma nota divulgada pelo Cimi afirma que em 1983 a Funai abriu um ramal na floresta, para fazer contato com os indígenas. Quando foi questionado sobre o perigo dessa via de acesso direto à terra indígena, o coordenador da expedição, Sebastião Amâncio, teria dito que havia pedido a missionários da Jocum que se transferissem para a área.

Foi o Cimi também que notificou ao MPF, em abril de 2005, a retirada de duas crianças suruahá para tratamento na cidade (em São Paulo e em Porto Velho), acompanhadas de seis parentes, sem autorização da Funai nem da Funasa. O caso ganhou repercussão ao ser noticiado pelo Fantástico, na TV Globo.

A reportagem da Radiobrás procurou falar com a Jocum, mas ninguém atendeu ao telefone na entidade.