Diplomata defende contexto mais amplo para discussões sobre reforma agrária

02/03/2006 - 6h08

Lana Cristina
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Reforma agrária num contexto mais amplo de políticas sociais, que envolva acesso a novas tecnologias, à educação, assistência médica e infra-estrutura de moradia no meio rural é o que defende o coordenador de Ações Internacionais de Combate à Fome do Ministério das Relações Exteriores, Milton Rondó Filho. Para ele, a vida do homem campo tem que ter qualidade para que o país não enfrente novamente o fenômeno do êxodo rural.

Agricultura familiar e reforma agrária, aliás, são temas que caminham juntos, na opinião do diplomata, já que o sem-terra que consegue ter acesso a um pedaço de terra passa a ser um pequeno produtor. Por isso, ele acha que, no contexto da reforma agrária, o Brasil tem dado cada vez mais atenção à agricultura familiar.

"A política externa brasileira agrícola antes era uma política que olhava o mundo com os olhos da monocultura, quando nós temos uma agricultura familiar importantíssima. Conquistar o mercado à custa de perder o mercado interno é pôr em risco nossa segurança nacional. Então, neste governo, a agricultura familiar tem voz na política externa, nas negociações econômicas e comerciais", observou.

Para Rondó Filho, que vai participar na semana que vem da Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural, o tema é cada vez mais atual, embora governos ligados ao neoliberalismo dos anos 80 e 90 tenham considerado a reforma agrária um tema superado. "A distribuição de terras está no centro do desenvolvimento de qualquer país. Não há um país desenvolvido com uma distribuição de terras iníqua".

Ele destacou ainda países onde se desenvolvem programas de acesso à terra para resolver problemas fundiários e garantir o suprimento de alimentos com segurança, como a África do Sul, Namíbia, Filipinas, Moçambique e Índia.

"Esse é um tema atual para vários países, no hemisfério Sul e talvez até em alguns do Norte. Porque, com a concentração de renda que houve no mundo nas últimas duas décadas em que o neoliberalismo reinou, verifica-se que isso teve um efeito muito negativo na terra, no meio rural".