Para diplomata, debate sobre reforma agrária mostra superação do neoliberalismo

27/02/2006 - 18h17

Lana Cristina
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O debate da 2ª Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural, organizada no Brasil pela ONU e pelo governo federal, deve consolidar o conceito de que a posse da terra é um direito. Em entrevista Agência Brasil, o diplomata Milton Rondó Filho, um dos integrantes da delegação oficial brasileira no encontro, avalia que a conferência evidencia a tendência de superação do neoliberalismo.

"Eu vejo essa volta [do assunto dentro da ONU] num sentido mais amplo de superação do neoliberalismo. A partir do momento em que os povos vão se dando conta da fumaça que era o neoliberalismo e vão se libertando das amarras ideológicas que ele tinha, as pessoas vão percebendo que a posse da terra é um direito. E que como os outros direitos humanos, ele tem de ser exercido", afirma. Desde 1979, quando foi realizado o último encontro em Roma, na Itália, o tema não teve um grande debate dentro da ONU.

Segundo o diplomata brasileiro, a América Latina tem demonstrado essa nova posição de forma muito clara. "Governos democráticos, populares, comprometidos com mudanças, como é o caso do governo do presidente Lula [Brasil], do presidente Tabaré Vazquez [Uruguai], do presidente Néstor Kirchner [Argentina], do presidente Hugo Chávez [Venezuela], do presidente Evo Morales [Bolívia]. É muito clara a vontade dos povos latino-americanos em exercerem plenamente seus direitos. Nesse sentido, a posse da terra é central", explica.

Não é possível, de acordo com Rondó, falar de segurança alimentar se ao mesmo tempo temos uma estrutura latifundiária de monocultura. "Assim como não há segurança ambiental, porque a monocultura engendra uma série de desastres ambientais, de desequilíbrios ambientais", diz. O diplomata coordena a área de Ações Internacionais de Combate à Fome da Secretaria-Geral do Ministério das Relações Exteriores, que cuida do tema da agricultura familiar e da reforma agrária nas mesas de negociação internacionais.