Comissão especial investigará denúncias de comércio ilegal de armas na fronteira

17/02/2006 - 20h13

Brasília, 17/2/2006 (Agência Brasil - ABr) - As denúncias da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Armas, da Câmara, sobre indícios de conivência de oficiais das forças armadas da Argentina, Paraguai e Uruguai com o comércio ilegal de armas na fronteira com o Brasil, levaram à criação de uma comissão especial para as investigações.

A primeira reunião dessa comissão especial deverá ocorrer logo depois do Carnaval. Criada durante reunião, nesta semana, do vice-presidente da República e ministro da Defesa, José Alencar, a comissão tem representantes dos três países, dos chefes das Forças Armadas do Brasil, dos ministério da Justiça e das Relações Exteriores, e da CPI das Armas. Deverão ser convidados também representantes do Suriname e da Bolívia.

O presidente da CPI, deputado Moroni Torgan (PFL-CE), disse ter apresentado na reunião no Ministério da Defesa relatório com trechos de depoimentos secretos dados à Comissão, contendo as denúncias, e também um mapa das apreensões de armas originárias dos três países. Para o deputado, esse tipo de comércio não é resultado apenas da falta de fiscalização: "Há um verdadeiro supermercado de armamento nas áreas de fronteira, inclusive com a venda de fuzis de uso exclusivo das Forças Armadas".

Moroni Torgan informou que os indícios ficaram ainda mais fortes após audiência pública realizada também ontem com os policiais federais Wantuil Cordeiro, que chefia a Divisão de Combate ao Tráfico de Armas; e Mauro Spósito, coordenador de Operações Especiais de Fronteira. Ele citou um depoimento de que "tem sido muito fácil adquirir munição proíbida no Uruguai" e alertou que "a gente coíbe no Brasil, mas o bandido vai para a fronteira e consegue o armamento".

A intenção, acrescentou, não é acusar os países, mas encontrar uma forma de coibir a entrada de armas no Brasil. "Nós estamos preparados para mostrar as armas de fabricação estrangeira, o local onde foram compradas e a patente que a pessoa diz ter", afirmou. O parlamentar informou ainda que a legislação nesses países é "tão dura quanto a nossa, mas ficam expostas em lojas armas como AR-15, AK-47 e M-16 para vender". E concluiu: "Alguém está fechando os olhos, sem sombra de dúvidas".

Integrante da CPI das Armas, o deputado Alberto Fraga (PFL-DF) lembrou, no entanto, que "o que existe são declarações de presos, que dizem comprar armas das mãos de alguns oficiais, e as armas a gente sabe que vêm de países vizinhos". Segundo o parlamentar, "não existe uma prova material para se dizer com clareza que essas armas estão sendo contrabandeadas por oficiais das forças armadas do Uruguai, Paraguai e Argentina". Na opinião dele, a CPI precisa avançar mais nas investigações.