Cristiane Ribeiro
Repórter da Agência Brasil
Rio - A grande movimentação de dinheiro com a venda de drogas na Rocinha acaba gerando uma cobiça entre traficantes de facções rivais, que não medem esforços pelo domínio dos pontos de comercialização e acabam promovendo conflitos armados que colocam em risco a vida da população. A avaliação é do antropólogo Alcir Cavalcanti, autor de vários estudos sobre violência urbana.
Em entrevista do programa Redação Nacional, da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, nesta sexta-feira, Cavalcanti classificou a Rocinha como um lugar privilegiado para a venda de drogas, porque a favela fica muito próxima a bairros de classe média alta, como São Conrado e Gávea, atraindo consumidores com alto poder aquisitivo.
"A venda de drogas na Rocinha é muito grande e provoca o chamado olho grande de grupos de outras favelas que tentam invadir o morro para controlar o tráfico", afirmou. Para o antropólogo, o consumo e venda de drogas só poderão diminuir com a adoção pelo governo do Estado de políticas públicas de educação e emprego direcionadas à juventude. A medida, segundo ele, faria com que o jovem não se sentisse atraído pelo tráfico e com a possibilidade de ganhar muito dinheiro.
"Dependendo da função que o jovem ocupar no organograma do tráfico ele pode ganhar R$ 400 por semana ou até R$ 200 por dia, enquanto que em um emprego formal o salário não passará de R$ 400 por mês", enfatizou. Cavalcanti lembrou que além de ficar refém do tráfico, a população de favelas sofre com a presença de "milícias armadas", compostas, segundo ele, por policiais ou ex-policiais. "Este poder paralelo já atua em várias favelas e um exemplo de ação é o domínio sobre a venda de gás".