Pólo produtor de fumo no Rio Grande do Sul debate como diversificar produção

01/02/2006 - 10h34

Shirley Prestes
Enviada especial

Santa Cruz do Sul (RS) – O fumo é a principal cultura de Santa Cruz do Sul, a 167 quilômetros de Porto Alegre, e dos demais municípios da região central do Rio Grande do Sul. O cultivo do produto é uma tradição passada de pai para filho. A maioria dos produtores é de origem germânica. Segundo eles, os primeiros imigrantes alemães chegaram à região há mais de 200 anos e trouxeram as primeiras sementes de fumo. Hoje, a cultura é responsável por mais de 90% da economia do município e transformou o Rio Grande do Sul no maior estado produtor do país.

Após a ratificação pelo Brasil da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco, no final do ano passado, aumentou a preocupação e as dúvidas dos fumicultores locais quanto ao futuro da atividade e às alternativas para a diversificação de culturas. Nessa semana, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, foi pessoalmente ao município apresentar o Programa de Apoio à Diversificação Produtiva das Áreas Cultivadas com Fumo, que deve estar implantado até o final de março.

As propriedades de Santa Cruz do Sul têm em média 10 hectares, a maioria com terrenos que tornam difícil a entrada de maquinários e novas tecnologia. "É uma lavoura manual, onde todos aprendem a lidar desde pequeno e a família toda trabalha e tira seu sustento", explica o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do Fumo e Alimentação (Stifa), Sérgio Pacheco. Ele fala em nome de 20 mil afiliados do setor urbano que trabalham nas industrias fumageiras da cidade.

"Aqui na região, mais de 35% das propriedades são arrendadas por colonos safristas, que também têm a cultura do fumo como fonte de renda, não sabendo como partir para a diversificação", acredita Pacheco. Segundo ele, no ano passado a indústria fumicultora de Santa Cruz trabalhou com 14 mil safristas - pessoas que só trabalham durante a temporada de colheita do fumo.

"Nesta safra de 2005/2006, estamos prevendo 2,5 mil trabalhadores a menos, por causa da fusão das empresas e da modernidade. Além disso, está saindo mais barato para as empresas beneficiarem o fumo em Santa Catarina", conta o sindicalista. Ele garante que a previsão é de 100 mil toneladas a menos na safra atual. "Serão menos trabalhadores, em termos percentuais e menos tempo de trabalho pois a safra, que antes durava cinco a seis meses vai acabar durando 3 ou 4 meses.

Pacheco explica que, mesmo com todas as dificuldades atuais, um hectare de fumo rende atualmente entre R$ 8 mil a R$ 10 mil por hectare. Qualquer outro tipo de cultura – milho, feijão, batata – não chegaria, segundo ele, a R$ 1 mil. De acordo com Pacheco, antes, os agricultores trabalhavam num período de julho a dezembro, plantando fumo. Depois, muitos iam trabalhar nas cidades, para ter a carteira assinada e um plano de saúde.

"Hoje isso diminuiu porque a maioria dos trabalhadores que plantam fumo são pessoas mais idosas. Os filhos estão nas cidades, estudando, trabalhando. Essas pessoas não sabem fazer outra coisa", revela o produtor. "Ficamos muito preocupados [com a necessidade de diversificar a produção], porque não vemos perspectivas para sair do fumo". O sindicalista prevê que a mudança gradual da cultura deve acontecer entre 15 a 20 anos.

Em entrevista à Radiobrás, o ministro Miguel Rossetto afirmou que o plano de diversificação quer preparar os produtores para a tendência mundial de redução do consumo de cigarro, promovida pelas campanhas da Convenção-Quadro Para Controle do Tabaco, aprovada pelo Senado em outubro do ano passado. De acordo com o ministro, o acordo mundial propõe medidas para reduzir o consumo do tabaco, mas não estabelece nenhuma restrição ao plantio de fumo.