Pioneiros relembram criação do Fórum Social Mundial

01/02/2006 - 5h07

Spensy Pimentel
Enviado especial

Caracas (Venezuela) - "Era uma época em que o Carlos Menem era recebido como herói nos debates internacionais", conta o empresário Oded Grajew, Ele se refere ao ano de 2000, e a um dos ícones da época, o presidente da Argentina. Pouco tempo depois, enquanto o projeto de Menem quebrava a Argentina, surgia no Brasil o 1º Fórum Social Mundial.

"O Fórum Econômico Mundial estava no auge, como arauto do novo mundo. Para eles, havíamos chegado ao modelo que ia levar o mundo à felicidade, o neoliberalismo", disse ele, durante sua estada em Caracas para a participar do 6º FSM.

O imigrante israelense que já foi sócio em uma fábrica de brinquedos e hoje milita pela responsabilidade social das empresas lembra que o então presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso acusava de "retrógrados" os adversários desse "novo tempo".

À época, participante assíduo do evento realizado em Davos, na Suíça, Grajew conta que, sem resultado, fizera sugestões reiteradas de que o fórum econômico modificasse sua pauta. Frustrado, lembra "como num filme" quando, de férias na Europa, assistindo a cenas do encontro de Davos na televisão, teve a idéia de criar um contraponto àquela reunião. "Seria um fórum social mundial, para sinalizar a idéia de que o econômico tem de estar subordinado ao econômico, e não o contrário".

Hoje, Grajew se orgulha da idéia que tornou realidade em parceria com ativistas como o jornalista francês Bernard Cassen, do Le Monde Diplomatique, os brasileiros Francisco Whitaker (Comissão Brasileira de Justiça e Paz), Sergio Haddad (Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais - Abong), Candido Grzybowski (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas - Ibase), Carlos Tibúrcio e Antonio Martins (ambos, à epoca, da Ação pela Tributação das Transações Financeiras e Apoio aos Cidadãos - Attac) e Maria Luisa Mendonça, militante pelos direitos humanos.

Essas, conta Grajew, foram as primeiras pessoas com quem compartilhou as idéias sobre um evento que serviria como contraponto ao Fórum Econômico Mundial, do qual costumava participar, sugerindo aos organizadores que modificassem sua pauta com a introdução do debate sobre metas sociais. A sugestão inicial de que o evento acontecesse no Brasil, lembra Carlos Tibúrcio, foi de Cassen.