Ivan Richard
Da agência Brasil
Brasília – O Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH) criou duas comissões especiais para acompanhar de perto as investigações em torno do episódio de escuta telefônica ocorrido na empresa Rede Gazeta, em Vitória (ES). Na escuta, jornalistas e funcionários da emissora tiveram suas conversas gravadas nos meses de abril e maio do ano passado.
A Rede Gazeta teve um dos seus telefones grampeados, com autorização da Justiça, durante as investigações do assassinato do juiz Alexandre Martins de Castro Filho, ocorrido em 2003. Segundo o diretor geral da empresa, Carlos Lindenberg Neto, a intenção da polícia era interceptar as ligações de uma pessoa conhecida como "Fernando Cabeção", cujo telefone era semelhante ao da Rede Gazeta.
O CDDPH decidiu instaurar ontem (31) as duas comissões depois que o diretor da emissora levantou uma série de questionamentos que apontam falhas no processo investigativo realizado pela justiça capixaba. "Ele (Carlos Lindenberg Neto) trouxe dez perguntas que são importantes e derrubam o inquérito policial apresentado", afirmou o ministro da Secretaria Especial dos Diretos Humanos e presidente do CDDPH, Paulo Vannuchi. "Precisamos responder porque a escuta telefônica foi mantida se ela se deu por um erro de investigação", acrescentou o ministro.
Para o conselheiro e representante da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Marcelo Tognozzi, o episódio fere "o principal capital da dos jornalistas que é a credibilidade". "A fonte é um patrimônio, um capital humano que a empresa tem. Hoje em dia, você não consegue trabalhar senão tiver fonte", ressaltou Tognozzi. Segundo ele, deve haver uma grande mobilização da sociedade e do governo para punir os culpados para que seja resgatada a credibilidade da empresa.
O CDDPH determinou que uma das comissões irá à capital capixaba para cobrar das autoridades locais respostas sobre os supostos erros cometidos pela polícia que acabaram no grampo telefônico à empresa. A segunda, vai discutir com representantes do Congresso Nacional, órgão públicos e sociedade civil alterações na legislação em torno do assunto e também a criação de mecanismos para coibir e punir com rigor as pessoas que forem flagradas praticando o grampo telefônico.