Hamas despertou simpatia de palestinos e surpreendeu EUA e Europa, avalia professora da UnB

01/02/2006 - 16h55

Cristina Índio do Brasil
Repórter da Agência Brasil

Rio – A professora de História da Universidade de Brasília (UnB) Norma Breda, especializada em Oriente Médio, avalia que o histórico de corrupção do partido que estava no poder na Palestina, o Fatah, fundado por Yasser Arafat, indicava uma enorme simpatia da população pelo Hamas, apesar do "aparente" investimento feito pela União Européia e pelos Estados Unidos para promover o Fatah.

"O seu desempenho nas eleições não foi o esperado, pelo menos, por essas duas grandes comunidades importantes, os Estados Unidos e a União Européia", disse, em entrevista hoje (1º) ao programa Notícias da Manhã, da Rádio Nacional.

No dia 26, o Conselho Eleitoral Central Palestino anunciou a vitória de 76 candidatos do Hamas para ocupar o total de 132 cadeiras no Conselho Legislativo Palestino (parlamento). Quatrocentos candidatos participaram da eleição em que votaram mais de 1,3 milhão de palestinos. A última vez que eles foram às urnas foi em 1996.

De acordo com a professora, os Estados Unidos têm uma posição bastante agressiva e isso faz com que o nacionalismo seja reforçado nessas regiões. "A postura de oposição à política norte-americana torna-se mais clara. É importante entender a posição desses países, como é o caso do Irã, que tem longa história de ressentimento com relação ao Ocidente", avaliou. "Certamente, qualquer tipo de ameaça ou uma situação de tensão, faz com que você veja nesses países do Oriente Médio países acuados em posição humilhante. Conseqüentemente se vê o reforço do nacionalismo, o que não é bom para o mundo", observou.

Embora tenha dito ser difícil fazer previsões neste momento, Norma espera que o Hamas não se desgaste ao longo do tempo e que suas posições se tornem menos radicais dado o espaço para exercer o poder como um partido eleito democraticamente, a exemplo, segundo ela, do que vem sendo observado em vários exemplos pelo mundo. "É essa a situação em uma regra meio geral. Quando se vê países e forças políticas que não têm espaço para se expressar, com um comportamento que se radicaliza cada vez mais, aquelas forças políticas, lideranças e países que são cada vez mais escutados se tornam mais aptas ao diálogo", observou.

A professora destacou que o discurso anual do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, é "extremamente importante", porque o dirigente anuncia a manutenção da política exterior para este ano. "No discurso, Bush demonstra que vai continuar sua ofensiva contra o que ele chama de mal feitores internacionais. A gente pode pensar que é retórica, mas aparentemente pelo que temos visto nos últimos anos, isso não se reduz à retórica", afirmou. "De toda maneira é uma retórica bastante belicista (de guerra), que deixa pouco lugar ao diálogo e a posições mais flexíveis com relação, por exemplo, ao Oriente Médio", completou.