Especialista em finanças alerta sobre uso de crédito consignado e ao consumidor

23/01/2006 - 13h49

Rio, 23/1/2006 (Agência Brasil - ABr) - O coordenador executivo do Centro de Estudos de Finanças Pessoais, Marcos Silvestre, fez hoje um alerta sobre o bom uso dos créditos, tanto o consignado, com desconto na folha de pagamento, quanto o direto ao consumidor. Em entrevista ao programa Notícias da Manhã, da Rádio Nacional, Silvestre disse que esse tipo de empréstimo pode se tornar prejudicial, se não for contraído de forma racional.

"Começamos a observar isso com o crescimento exacerbado dos volumes de inadimplência, ou seja, de não pagamento de dívidas pessoais. Isso acontece porque temos uma infeliz combinação de facilidade na tomada do crédito pessoal com a falta de educação financeira para saber como fazer bom uso do crédito pessoal", explicou Silvestre.

Para ele, o crédito consignado só deve ser usado para sanear as finanças pessoais ou familiares e para melhorar a segurança da família. E é preciso lembrar que o crédito consignado é o primeiro dinheiro descontado da conta do devedor. "Com o que sobra, ele tem que cobrir as despesas normais e ainda ter fundos para quitar as demais dívidas. Por isso, o crédito consignado acaba sendo o vilão da inadimplência", afirmou.

O nível de comprometimento da dívida não pode passar de 10% da renda do consumidor. Este já é um nível preocupante, afirmou. "Quando a cada R$ 10 líquidos que são recebidos e que seriam para pagar todas as dívidas e despesas, R$ 1 ou mais está se destinando ao pagamento de desconto em folha, o índice já é preocupante e em nenhuma hipótese pode ultrapassar os 30%, que já seria uma incidência bastante grande", calculou o especialista em finanças.

Para Silvestre, o modo mais eficaz de uso do crédito consignado é no caso da troca por uma dívida mais cara como, por exemplo, no cheque especial, em que há incidência de juros de até 10% ao mês. "O crédito consignado pode ser extremamente útil na troca de dívidas preocupantes por esta que é uma dívida menos preocupante", explicou Silvestre, que também não recomenda o uso do crédito consignado para consumo. "Sempre valerá muito mais a pena, do ponto de vista financeiro, juntar o dinheiro antes, investir um pouquinho todo mês, e depois comprar os bens à vista, com desconto".

Segundo o especialista, na faixa dos mais atingidos pela inadimplência causada pelas dívidas encontram-se tanto pessoas de renda mais baixa até a classe média. Para ele, a situação mais delicada, no entanto, é a dos aposentados. "Neste caso, a renda é determinada e dificilmente o aposentado vai conseguir uma atividade paralela e intensificar os esforços de trabalho para suplantar a renda, pagar as prestações do consignado e impedir que a situação se complique".

Silvestre destacou que, apesar dessa "fragilidade adicional", muitos aposentados foram "com sede ao pote, induzidos por parentes endividados. Às vezes o aposentado não está endividado, mas o filho está, e acaba levando-o a usar esses recursos". Para o aposentado, fica difícil, pois a renda dele já "é achatada, inflexível e, quando vem deduzida do crédit,o pode representar uma queda substancial no padrão de vida", analisou.

Em novembro, o Indicador Serasa de Inadimplência Pessoa Física mostrou crescimento de 6%, se comparado ao mês anterior. Na comparação com o mesmo período em 2004, a elevação ficou em 13,7%. De janeiro a novembro de 2005, a inadimplência dos consumidores pessoa física registrou elevação de 13,4%, se comparada ao mesmo período do ano anterior.